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Notas introdutórias sobre a análise do discurso (Parte 2) - Conjuntura intelectual no campo lingüístico: os estruturalismos

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Eduardo de Araújo Carneiro e Egina Carli de Araújo Rodrigues Carneiro - Publicado em 25.06.2007

Os intelectuais da época não ficaram indiferentes ao mundo que os circundava. Na França, poderiam ser encontrados os mais brilhantes pensadores do século XX. Paris Estavam em pleno ativismo político figuras como Sartre, Althusser, Foucault, Deleuze, Pêcheux, Lacan, Lévi-Strauss, Barthes, Derrida, Bourdieu, Todorov, Benveniste e Castoriadis, para não citar outros.





mais parecia a capital intelectual da Europa. Estavam em pleno ativismo político figuras como Sartre, Althusser, Foucault, Deleuze, Pêcheux, Lacan, Lévi-Strauss, Barthes, Derrida, Bourdieu, Todorov, Benveniste e Castoriadis, para não citar outros. Debatiam sobre todos os assuntos, principalmente os que gravitavam em torno do estruturalismo e do marxismo. “Duas grades de leitura sem as quais é impossível entender os caminhos percorridos pela análise do discurso francesa” (GREGOLIN, 2004, p. 15).

De todos os países europeus, a França foi aquele em que o estruturalismo teve maior ressonância, um fenômeno que culminou no final dos anos 1960, num momento em que vários movimentos de contestação política chegaram a colocar em crise uma série de valores estabelecidos, naquele país (LLARI, p. 72. In: MUSSALIM, 2001).

As duas guerras mundiais fizeram ruir os valores e tradições que apoiavam o mundo moderno. As teses iluministas, aos poucos, foram deixadas de lado. A razão humana havia produzido uma era de catástrofes. O progresso tecnológico serviu para o extermínio milhares de pessoas e devastar a natureza. O otimismo das Luzes foi substituído pelo medo e pela insegurança do pós-guerra. Como Hobsbawm explica, “não era a crise de uma forma de organizar sociedades, mas de todas as formas” (HOBSBAWM, 1999, p. 21). Tudo que era sólido parecia “se desmanchava no ar” (BERMAN, 1993).

Foi uma crise das crenças e supostos sobre os quais se apoiava a sociedade moderna desde que os Modernos ganharam sua famosa batalha contra os Antigos, no início do século XVIII: uma crise das teorias racionalistas e humanistas abraçadas tanto pelo capitalismo liberal como pelo comunismo... (Hobsbawm, 1999, p. 20).

Naqueles anos, ficou evidente a necessidade de se fazer rupturas com dezenas de conceitos, até então, inquestionáveis. “O movimento de maio de 68 e as novas interrogações que surgiram de súbito no âmbito das ciências humanas foram decisivos para subverter o paradigma então reinante” (FERREIRA, p. 14. In: INDURSKY, 2005). No final dos anos 1960, começam a aparecer as primeiras fissuras na hegemonia do estruturalismo.

O estruturalismo foi marcado por um retorno aos trabalhos de Saussure , em especial ao Curso de Lingüística Geral (1916). Influenciado pela concepção de ciência do século XIX, Saussure definiu a língua como o objeto da lingüística. Assim, fundou a lingüística moderna operando uma “ruptura com a lingüística comparatista de sua época, propondo uma abordagem não histórica, descritiva e sistemática (dir-se-á. Mais tarde, ‘estrutural’)”. (PAVEAU, 2006, p. 63).

O ideal de cientificidade requeria de qualquer disciplina uma primorosa delimitação do objeto, a ponto de evidenciar suas leis de invariância. Saussure precisou encontrar na heteroclicidade da linguagem, algo sistêmico e homogêneo. O famoso “corte saussuriano” veio solucionar esse impasse. A oposição langue e parole constituiu a primeira “bifurcação” de seu construto teórico.

Essa é a primeira bifurcação que se encontra quando se procura estabelecer a teoria da linguagem. Cumpre escolher entre dois caminhos impossíveis de trilhar ao mesmo tempo; devem ser seguidos separadamente. Pode-se, a rigor, conservar o nome de Lingüística para cada uma dessas duas disciplinas e falar de uma Lingüística da fala. Será, porém, necessário, não confundi-la com a lingüística propriamente dita, aquela cujo objeto é a língua. Unicamente desta última cuidaremos (SAUSSURE, 1995, p. 28) [grifo nosso].

A partir de então, a fala ficou marginalizada nos estudos lingüísticos considerados científicos. E assim ficou durante os anos em que esteve oprimida pela insígnia de “abstrata”, “acessória” “assistemática” e “acidental”. Segundo Saussure:

O estudo da linguagem comporta, portanto, duas partes: um, essencial, tem por objeto a língua, que é social em sua essência e independente do indivíduo; esse estudo é unicamente psíquico; outra, secundária, tem por objeto a parte individual da linguagem, vale dizer, a fala, inclusive à fonação e é psicofísica (1995, p. 27).

Saussure encontrou, na língua, o objeto capaz de superar a heterogeneidade da linguagem. “A língua é um sistema”, dizia. O conceito de sistema se torna fundamental, pois é justamente esse conceito que os estruturalistas retomam anos mais tarde. Não há, no entanto, “no CLG um capítulo ou um parágrafo especificamente consagrado à noção de sistema” (PAVEAU, 2005, p. 76).

Os estruturalistas consideram a língua como um sistema de relações ou mais precisamente como um conjunto de sistemas ligados uns aos outros, cujos elementos (fonemas, morfemas, palavras, etc.) não têm nenhum valor independentemente das relações de equivalência e de oposição que os ligam (Disponível em Acesso em 05 de janeiro de 2007).

Apesar de não ter se preocupado em definir o significado de sistema, Saussure deixou algumas pistas no decorrer do Curso de Lingüística Geral. “A língua é um sistema do qual todas as partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica” (1916, p. 102).

Como afirma Paveau (2006, p. 89), “o termo sistema (do grego sustema) designa uma reunião, e, desde o século XVII, um conjunto que constitui um todo orgânico. É aproximadamente nesse sentido que Saussure utiliza o termo no CLG para dar uma primeira caracterização da língua (sistema de signos)”. Referindo-se a essa definição, explica que “ela não diz nada sobre a maneira pela qual é organizado o todo orgânico que constitui um sistema dado” (Idem, p. 89).

Um bom exemplo é dado pelo próprio Saussure: o xadrez. Nesse jogo, cada peça obedece a regras e possui uma função específica, de tal modo que, ao mexer em uma delas, todas sofrem influências e vice-versa. Não há peça isolada uma da outra, todas estão em relações recíprocas.

No conceito de sistema não cabe a idéia de fatores externos. O sistema é fechado em si mesmo. Essa característica é basilar para os que procuram encontrar uma lei universal que rege as peças do “xadrez” lingüístico. Essa idéia se encaixa perfeitamente no conceito de sincronia, outro conceito encontrado no CLG.

O genebrino diz que “a interferência do fator tempo é de molde a criar, para a lingüística, dificuldades particulares” (1916, p. 87), pois quando se analisa a língua em sua evolução, ela se torna variável.

Seria preciso, então, observar esse objeto alheio a qualquer movimento ou influência da história. “É sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência; diacrônico tudo que diz respeito às evoluções” (1916, p. 96). Vejamos as duas bifurcações saussureanas.

Com o corte língua/fala e os conceitos de sistema e sincronia, Saussure elimina da lingüística científica a fonologia, o enunciado, o referente, o sujeito, a cultura e a história. Essas “exclusões” vão ser incluídas no debate lingüístico por volta dos anos 1950, por vários estudiosos, que vão ficar conhecidos como estruturalistas. “Embora reconhecendo o valor da revolução lingüística provocada por Saussure, logo se descobriram os limites dessa dicotomia pelas conseqüências advindas da exclusão da fala do campo dos estudos lingüísticos” (BRANDÃO, 1993, p. 9).

Para Lepargneur (1973, p. 4) o conceito clássico de estrutura é o seguinte: “um conjunto de elementos entre os quais existem relações, de forma que toda modificação de um elemento ou de uma relação acarreta a modificação dos outros elementos e relações”. Como se percebe, é um conceito muito próximo ao de sistema.

Há certa vulgata no uso freqüentemente indiferenciado dos termos sistema e estrutura. Entretanto, eles não recobrem necessariamente os mesmos dados, mesmo se eles são indissociavelmente ligados do ponto de vista teórico.

É fato que a afirmação do conceito de sistema remete freqüentemente àquele de estrutura, tanto que existe de um a outro uma dinâmica de mútua remissão. É preciso lembrar aqui que na teoria lingüística, a circulação do conceito de sistema precede o emprego do conceito de estrutura (PAVEAU, 2006, p. 89).

O método saussureano encontrou no antropólogo francês Lévi-Strauss o seu mais contundente divulgador. Foi a partir de então que o método originalmente lingüístico se estendeu para outras disciplinas, de modo que hoje, não dá mais para se falar de um único estruturalismo.

“Chamamos estruturalismos os esforços de aplicação (ou de elaboração) de métodos originalmente concebidos em lingüística, e que atingem hoje qualquer um dos campos das ciências humanas” (LEPARGNEUR, 1973, p. 4). Esse mesmo autor em outra passagem diz:

O estruturalismo lingüístico nasceu quando Ferdinand de Saussure pretendeu atingir leis gerais do funcionamento de uma língua. O estruturalismo etnológico nasceu quando Claude Lévi-Strauss pretendeu atingir as leis gerais do funcionamento de certas estruturas culturais, especificamente aquelas que regem os sistemas de parentesco ou as que regem a produção dos mitos em culturas arcaicas (1973, p. 6).

À pergunta: o que é estruturalismo? Barthes responde “Não é uma escola nem mesmo um movimento (pelo menos por enquanto), pois a maior parte dos autores que se associam geralmente a essa palavra não se sentem de modo algum ligados entre eles por uma solidariedade de doutrina ou de combate”. (1970, p. 49)

Para Barthes (1970, p. 51), o objetivo da atividade estruturalista: “é reconstituir um objeto, de modo a manifestar nessa reconstituição as regras de funcionamento (as funções) desse objeto”. O estruturalista toma a estrutura pelo real. Recompondo o objeto para fazer aparecer suas funções, pensa, na verdade, estar encontrando as funções do real a que a estrutura pertence. Já para Lepargneur (1973, p. 5), o trabalho do estruturalista consiste em “descobrir, por trás das aparências, além da organização aparente do objeto, estruturas inteligíveis que expliquem certo funcionamento, e isso num campo que se relaciona com a atividade humana”.

De acordo com Gregolin (2004, p. 21), o estruturalismo chega à França em conseqüência do encontro de Roman Jakobson com Lévi-Strauss nos EUA. “A partir deles, deu-se a chegada das idéias estruturalistas na França, no início dos anos 1950”. Para contextualizar essa recepção francesa do estruturalismo no campo da lingüística, retomemos, de forma breve, a trajetória das duas mais influentes teorias: os funcionalistas e os formalistas.

Os funcionalistas podem ser divididos em três linhas de estudos: a Escola de Praga, a Escola de Copenhague e a liderada por Martinet.

A Escola de Praga foi fundada em outubro de 1926, na antiga Tchecoslováquia, pelo lingüista Mathesius. O diálogo com o modelo de funcionamento lingüístico elaborado por Mathesius foi o laço que uniu os primeiros membros de Praga. “Por influência de Mathesius, lingüistas de Praga, desenvolveram uma concepção de comunicação incomparavelmente mais rica que a de Saussure” (LLARI, p. 69. In: MUSSALIN, 2001, vol.3).

O que hoje é designado em geral como Escola de Praga compreende um grupo bastante amplo de pesquisadores, sobretudo europeus, que, embora possam não ter sido membros diretos do Círculo Lingüístico de Praga, se inspiraram no trabalho de Mathesius, Trubetzkoy, Jakobson e outros estudiosos (WEEDWOOD, 2002, p. 137).

O funcionalismo é “um movimento particular dentro do estruturalismo” (LYONS, 1981, p. 166) , que defende a hipótese de “que a estruturas fonológica, gramaticais e semânticas das línguas são determinadas pelas funções que exercem nas sociedades em que operam” (LYONS, 1981, p. 166).

Mathesius escolhe a sincronia e a relação da lingüística com o social, mais precisamente com a arte.

É dele a famosa afirmação: “a forma está subordinada à função”. Segundo Paveau, o Círculo de Praga foi um “verdadeiro cadinho inovador e crítico no campo científico europeu dos anos 20, matriz de uma nova maneira de pensar a linguagem” (2006:115). E essa nova maneira de pensar a linguagem foi revelada no 1° Congresso Internacional de Lingüística de Haia, na Holanda, realizado em 1928 e ficou conhecida como as Teses de Praga. Ao todo foram nove teses sobre temas como: o funcionamento da língua, a literatura, fonética e o poético.

As principais teses são: a) a língua é um sistema funcional orientado para uma finalidade; b) divisão entre a fonética (fato físico) e a fonologia (sistema funcional); c) a natureza das funções lingüísticas determina a estrutura da língua; d) o estudo de uma língua exige que se considere a variedade das funções lingüísticas e seus modos de realização.

Os funcionalistas privilegiam as constantes transformações das formas da linguagem na sociedade. A forma é subordinada à função e a função é a tarefa atribuída a um elemento lingüístico estrutural que visa atingir um objetivo no quadro da comunicação humana. Jakobson criou a classificação mais utilizada das funções da linguagem, a saber: referencial, emotiva, conotativa, fática, metalingüística, poética. No entanto, são as teses referentes à fonologia que deixam a Escola de Praga internacionalmente conhecida. Em 1930, na 1° Conferência Internacional de Fonologia, ocorrida em Praga, Trubetzkoy sistematiza-a como disciplina. Ele formula a diferença entre som e fonema.

Trubetzkoy dá ao fonema sua definição mais estável, que será retomada em toda a fonologia moderna. No CLG, Saussure define o fonema como a soma de impressões acústicas e articulatórias, da unidade entendida e da unidade falada é uma definição natural do fonema, isto é, que repousa sobre observações de ordem física e não funcional (PAVEAU, 2006, p. 127-128).

Como membro do Círculo de Praga, Trubetzkoy partilha a convicção de que, no estudo do sistema de uma língua, é preciso articular estreitamente as perspectivas sincrônicas e diacrônicas. Essa convicção é derivada do fato de que sua fonologia integra a dimensão histórica. Ele tira o fonema da ordem natural deixada por Saussure, e coloca-o no funcional.

O funcionalismo também foi desenvolvido pelos membros da Escola e Copenhague. O seu mais expressivo pensador foi Hjelmslev. Críticos da Escola de Praga, eles desenvolveram a teoria da glossemática, ou seja, o estudo e a classificação dos glossemas.

Segundo essa Escola, as mudanças lingüísticas não seriam conseqüências nem da necessidade das leis fonéticas, nem das causas sociais, mas da modificação das relações lógicas que regem a economia dos elementos de um mesmo sistema.

A língua não deveria ser apreendida como um conglomerado de fenômenos não-lingüísticos, porém como uma totalidade que se basta a si própria. Os signos são uma manifestação do sistema e os elementos implicados num sistema definem uma estrutura.

A glossemática foi a escola de lingüística estrutural que mais conseqüentemente procurou aplicar a tese saussureana de que as línguas se constituem como sistemas de oposições. Esta preocupação levou o próprio Hjelmslev a caracterizar exaustivamente, do ponto de vista lógico, as relações por meio das quais as línguas se estruturam, e resultou num tipo de descrição lingüística das línguas em que se dá atenção particular às relações entre as unidades, nos vários níveis de análise (LLARI, p. 70. In: MUSSALIN, 2001).

O signo constitui uma função com duas variáveis: o significado, redefinido como conteúdo; e o significante, redefinido como expressão. “Hjelmslev sofisticou um pouco mais a noção saussureana de signo com a noção de função, em um sentido próximo ao da matemática” (DUARTE, 2003, p. 27).

O lingüista André Martinet foi outro funcionalista europeu bastante influente na França. “Situa-se na linha direta do estruturalismo europeu elaborado por Saussure” (Paveau, p. 135). Sua perspectiva apóia-se numa reflexão constante sobre a diversidade das línguas. Defendeu uma lingüística objetiva. Exigiu, em primeiro lugar, a descrição correta da realidade dos fenômenos linguageiros. O princípio básico de sua teoria diz que a língua é um instrumento de comunicação duplamente articulado e de manifestação vocal.

A dupla articulação é uma característica da linguagem humana. Na primeira articulação, combinam-se unidades mínimas significativas em infinitas possibilidades. Na segunda articulação estão os fonemas, limitados em número, mas que formam o sistema.

Em toda língua natural existem dois níveis de oposição: aquele em que as unidades podem ser contrastadas de modo a fazer aparecer, simultaneamente, diferenças de forma e de sentido (esta é para Martinet, a primeira articulação, que corresponde muito aproximadamente às palavras), e aquele em que se podem pôr à mostra diferenças que apenas servem para distinguir unidades esta é a segunda articulação, cujas unidades são os trabalhos relativamente extenso de descrição sintática (LLARI, p. 72. In: MUSSALIN, 2001).

O aspecto funcional é defendido por achar que a pertinência comunicativa da língua é que melhor permite a compreensão da natureza e da dinâmica da linguagem. Será considerado como pertinente sob o ângulo comunicativo todo objeto que tem por função desencadear uma informação.

Em suma, o sistema fonológico se mantém graças a uma economia interna, baseada numa relação de custo e benefício, que é precisamente o que Martinet chamou de economia... Esse não era apenas um raciocínio tipicamente estruturalista, era uma descoberta que representava um passo enorme em relação à concepção de lingüística diacrônica exposta no Curso de Lingüística Geral (LLARI, p. 72. In: MUSSALIN, 2001).

Apesar da influência saussureana, os funcionalistas, de modo geral, rejeitam a homogeneidade do sistema lingüístico e a oposição sincronia/ diacronia. Segunda Paveau, o próprio termo funcionalismo “parece designar uma corrente em si, distinta ou separada do estruturalismo fundador oriundo dos trabalhos de Saussure” (2006:115).

Os funcionalistas norte-americanos também exerceram influência na Europa. Esse estruturalismo tem no centro de suas preocupações o funcionamento interno do sistema linguareiro e prioriza a forma. Almejaram descrever, exaustivamente, as línguas indígenas, abundantes no continente. Bloomfield e Harris são os principais representantes dessa teoria.

Diante das línguas a serem estudadas, os pesquisadores americanos desse período sentiram-se comprometidos em realizar uma tarefa eminentemente descritiva, que deveria, tanto quanto possível, evitar a interferência dos conhecimentos prévios do lingüista [...] Essa orientação correspondia à crença de que cada língua tem uma gramática própria (LLARI, p. 77, In: MUSSALIN, 2001, grifo nosso).

Como todos os estruturalistas, Bloomfield acreditou na possibilidade de se trabalhar de maneira neutra com a linguagem. Ele “adotou explicitamente uma abordagem behaviorista do estudo da língua, eliminando, em nome da objetividade científica, toda referência a categorias mentais ou conceituais” (WEEDWOOD, 2002, p. 131). Por isso, observou as formas da língua do exterior, sem levar em conta sua evolução histórica e a função que elas desempenham no sistema.

“O significado é simplesmente a relação entre um estímulo e uma reação verbal” (WEEDWOOD, 2002, p. 131).

Zellig Harris é outro importante lingüística norte americano. Principalmente por que foi um dos influenciadores de Michel Pêcheux, considerado por muitos como o fundador da Análise do Discurso. O objetivo da lingüística distribucional, segundo esse pensador, era mostrar que o sistema da língua funciona segundo regularidades demonstráveis (PAVEAU, 2006, 154).

Foi o primeiro a usar a expressão Análise do Discurso, quando em 1952, publica um artigo com esse título. Para Harris, o discurso é o lingüístico que ultrapassa os limites da sentença. Foi assim que esboçou uma análise transfrástica. É justamente isso que afirma Brandão (1993, p. 15):

Os anos 50 serão decisivos para a constituição de uma análise do discurso enquanto disciplina. De um lado, surge o trabalho de Harris (Discourse Analysis, 1952) que mostra a possibilidade de ultrapassar as análises confinadas meramente à frase, aos enunciados (chamados discursos)...

Queria generalizar um método que pudesse dar conta do funcionamento da linguagem a partir da observação de um corpus finito de enunciados naturais. Apesar de algumas mudanças, sua teoria lingüística ainda estava vinculada à imanência da língua, pois criou a ilusão da existência de uma verdade no texto a ser encontrada.

Noam Chomsky foi o mais célebre aluno de Harris. Apesar de no decorrer de sua carreira ter rompido com o mestre. A Gramática Gerativa (1957) espelhou-se como uma epidemia. “Veio a se tornar um divisor de águas na lingüística do século XX” (WEEDWOOD, 2002, p. 132). Nela, ele afirma que a lingüística descreve a estrutura das línguas. Essas estruturas explicam como são entendidas e interpretadas as orações em qualquer idioma.

Chomsky acredita que o processo é possível graças à gramática universal. Segundo ele, há regras gramaticais universais e específicas para cada língua. Tal modelo supõe o conhecimento inato e inconsciente possuído por qualquer pessoa para compreender as orações de seu idioma.

Assim, traçou uma distinção fundamental entre o conhecimento que uma pessoa tem das regras de uma língua e o uso efetivo desta língua em situações reais. Aquele conhecimento chamou de competência, e a este, desempenho. A lingüística, para ele, “deveria ocupar-se com o estudo da competência, e não restringir-se ao desempenho” (WEEDWOOD, 2002, p. 133).

Essa gramática se distanciou completamente do behaviorismo, do empirismo e das lingüísticas descritivas. Como diria Weedwood, “Chomsky mostrou que as análises sintáticas da frase praticadas até então eram inadequadas em diversos aspectos, sobretudo porque deixavam de levar em conta a diferença entre o nível superficial e o profundo da estrutura gramatical” (2002, p.132).

As concepções funcionais e formais da linguagem, bem como as propostas gerativas estão baseadas na hipótese da transparência da língua ou na imanência lingüística. A língua, segundo os funcionalistas, é capaz de transmitir fielmente a mensagem. Como se as condições de produção, circulação e recepção da mensagem não interferissem no sentido, e como se o próprio signo não fosse ideológico (BAKHTIN, 1928).

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