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Kafka Tinha Razão, by Silvane Luz

sábado, 20 de dezembro de 2008

Não sei se vocês leram o livro Metamorfose, de Kafka... para quem não leu, um breve resumo: o personagem principal acorda meio estranho e descobre que se transformou numa enorme barata. No começo a família tenta ser compreensiva, escondê-lo de olhares curiosos... com o tempo, simplesmente passam a ignorá-lo, até que o pobre coitado morre abandonado num quarto escuro.
Quando li esse livro, achei meio sem nexo, mas analisando a sociedade atual, fez muito sentido. Quando alguém demonstra inclinação para um vício, no começo a família procura camuflar o fato, procurando mostrar aos vizinhos que está tudo sob controle e vai deixando por isso mesmo, justificando para si que é normal, só uma fase, e o tempo vai passando. Quando se dá conta, a barata está enorme! O jeito agora é esconder o "bicho feio" dos olhares dos parentes e dos amigos.
Nessa hora entram em desespero emocional e rezam pra tudo quanto é santo, demonstrando a fragilidade do um ser humano sem orientação espiritual. Alguns tentam conversar com o "importuno", orientar (coisa que deveriam ter feito quando a inclinação surgiu), mas vão perdendo a paciência ao perceberem que estão falando para as paredes, que o "estorvo" não está nem aí para a opinião alheia, gosta e quer continuar fazendo o errado, pois não tem discernimento e se concentra no umbigo, se achando o mais esperto do mundo. Diante do fato consumado, não tem jeito mesmo, é aceitar a realidade e assumir perante os vizinhos (não tem mais como esconder). Comparando com o personagem filho-que-virou-barata, chega um momento em que a família simplesmente passa a ignorá-lo. Que o bicho fique lá no quarto, se quiser sair que saia, se quiser continuar lá que fique... as refeições - que antes eram de extremo zelo, agora são colocadas de qualquer jeito, se quiser comer que coma, se não quiser está tudo bem.
E a vida vai caminhando assim. Alunos mal educados saem às ruas em bando fazendo arruaça e ninguém toma a iniciativa de reclamar na escola. A filha menor já teve uns vinte namorados, já dormiu na casa de todos e os pais acham normal. Os que levantam a bandeira da amizade são os primeiros que esquecem os amigos, justificando que agora não têm tempo para eles, que seus compromissos são mais importantes, esquecendo que o mundo é redondo. Atrizes de filme pornô e prostitutas aparecem em canais de televisão dando entrevista, como profissionais especializadas, buscando admiração dos telespectadores, mas não respeitam a própria dignidade como ser humano, não têm a capacidade de perceber que são meros objetos para o prazer masculino, que sendo ela ou qualquer outramulher que faça aquilo, tanto faz pra eles, o importante é ter um corpo bonito para o comércio sexual. Políticos lançam leis que atrapalham pequenos empresários, que começam a pensar em formas de burlar a Lei para ter lucro. Neto agride avó, com tapas, ofensas verbais e quando vai preso, a vítima chora pedindo que não quer ver o neto na cadeira, entre marginais!!! Não ficaria nada surpresa de presenciar o corpo de um bebe jogado na calçada e bons casais, ao passarem por ali, olharem, terem pena e lamentarem: ---- nossa, mataram mais um, que judiação. E depois seguirem normalmente para seus afazeres diários, como se não tivessem nada a ver com aquilo.
Diante de tais fatos, concordo com uma frase que li recentemente na internet, o amor (sem Sabedoria) está levando muito mais gente para o inferno que o ódio.

Simbolismo: A Verdadeira Vanguarda

Seja como for, todas as "realidades" e as "fantasias" só podem tomar forma através da escrita, na qual exterioridade e interioridade, mundo e ego, experiência e fantasia aparecem compostos pela mesma matéria verbal; as visões polimorfas obtidas através dos olhos e da alma encontram-se contidas nas linhas uniformes de caracteres minúsculos e maiúsculos, de pontos, vírgulas, de parênteses; paginas inteiras de sinais alinhados, encostados uns aos outros como grãos de areia, representando o espetáculo variegado do mundo numa superfície sempre igual e sempre diversa, com dunas impelidas pelo vento do deserto.
Ítalo Calvino – Seis propostas para o próximo milênio.
O simbolismo é um fenômeno estético literário que se destaca na segunda metade do século XIX, porémque se irradia pelo começo do século XX, até o grande marco do modernismo, em 1922.
Caracterizou-se pela vasta aplicação de recursos das artes plásticas em geral, das quais se aproxima como gênero, como por exemplo, a musicalidade com a qual se preocupavam os poetas na utilização de recursos lingüísticos.
Numa tentativa de ubicação e contextualização históricas, poder-se-ia afirmar que o Simbolismo é um movimento literário com intensa reação ao Determinismo, ao Realismo e ao sistema positivista como um todo que caracterizara o último quartel do século XIX. Manifesta-se, principalmente, em rechaçar a "sensibilidade figurativista[1] do Realismo", causando estranheza a críticos literários cujo olhar já estava condicionado àquela estética predominante até então.
Apresenta-se sempre uma questão problemática a classificação deste ou daquele poeta, mas deve-se falar em predomínio ou na presença de determinado ideário estético neste ou naquele poeta. Assim, o Simbolismo possui tangência com os ideais românticos, porém agrega a esse movimento a busca da formalidade e uma maior preocupação formal, tanto no verso quanto na prosa do período. Pode-se falar também que o Parnasianismo deixa suas marcas indeléveis sobre a produção dos Simbolistas, porém estes agregaram à preocupação formal o viés místico e a lente através da qual coisas concretas se mostram como símbolos de realidades secretas.
Na busca pela estética própria das artes plásticas, houve a criação de um instituto que o caracterizasse, que foi o símbolo.
O símbolo, nos dizeres de MASSAUD MOISÉS é a instância artística própria a explicar a realidade que é sempre caótica. Assim, dado que a evocação de tal realidade se dá de modo indireto, o símbolo é a unidade escolhida, pois trabalha sempre com representação que só ocorre ante a ausência do objeto focado.
Principais características da escola literária
A)Quanto à temática:
1.ATMOSFERA VAGA
A sugestão é o caminho trilhado pelo poeta simbolista.Na esteira do poeta francês Mallarmé, para quem "Nomear um objeto é suprimir três quartos do prazer do poema, que é feito da felicidade em adivinhar pouco a pouco; sugerir esse objeto, eis o sonho...deve haver sempre um enigma em poesia, e é o objetivo da literatura – e não há outro -evocar os objetos."
O plano de fundo para tudo isso é a incerteza que permeia a existência humana.
É exemplo o soneto de Cruz e Souza:
CARNAL E MYSTICO Pelas regiões tenuissimas da bruma Vagam as Virgens e as Estrellas raras... Como que o leve arôma das seáras Todo o horisonte em derredór perfume. N'uma evaporação de branca espuma Vão diluindo as perspectives claras... Com brilhos crus e fúlgidos de tiáras As Estrellas apagam-se uma a uma. E então, na treva, em mysticas dormencias Desfila, com sidéreas lactescencias, Das Virgens o somnambulo cortejo... O' Fórmas vagas, nebulosidades! Essencia das eternas virgindades! O' intensas chimras do Desejo... Cruz e Souza
´
2.MISTICISMO
Toda essa atmosfera vaga tem como corolário o misticismo, como chave da compreensão de um mundo vago, de imagens difusas, de dimensões paralelas. Assim, a experiência mística está presente em diversos poetas, porém em Alphonsus de Guimarães há uma manifestação mais direta, permeada pelo misticismo católico que é mais uma forma de escapismo.
DUENDES, TRASGOS, BRUXOS E VAMPIROS...
Os duendes, trasgos, bruxos e vampiros
Vinham ao longo e tenebroso bando,
Os meus passos de múmia acompanhando,
Por entre litanias de suspiros...
Em tudo eu via os infernais retiros,
Onde ficava sem cessar sonhando:
e Satanás mostrava-me, nefando,
Negros sinais traçados em papiros...
Era, na sombra, o meu destino oculto,
_ Sirtes, penhascos, saturnais, paludes,
Todo o mistério de um funéreo culto...
Mas, de repente, os passos meus, tão rudes,
Firmaram-se no chão, e erguendo o vulto,
Vi-me amparado pelas Três Virtudes...
ALPHONSUS DE GUIMARAENS
Ressalte-se que há um erotismo místico que estabelece uma ponto com o gozo místico barroco, no qual há a descrição de impulsos eróticos que são transmutados em experiência religiosa.
Assim temos em " ósculo de cristo" , de Alphonsus:
Noite hebréia de luar. Sobre a terra cintila
O amplo sendal do céu, pontilhado de luz.
Uma benção astral beija branca e tranqüila
A alma de Madalena e a boca de Jesus.
Dorme em paz a Betânia. Ao vento o luar oscila.
Destacam-se no horizonte atroz granitos nus.
E dum lado da floresta arvoredos em fila
No mistério da Noite, erguem braços em cruz.
"Rosa do meu amor, bendita que tu és!".
E disse ainda Jesus: "Se de mim só tu foras,
A crença e a religião ia depor-te aos pés!"
Beijou-lhe o seio e a boca e as faces tentadoras:
E o seu beijo febril dos tempos através,
Até hoje redime as almas pecadoras.[2]
3. METALINGUAGEM
Está presente em diversos autores simbolistas. Há um perfilhar do fazer poético como ato criativo e como única forma de compreender a realidade, caótica e difusa, segundo o olhar do artista. Somente a arte pode abarcar a simultaneidade do mundo através da reiteração de imagens e metáforas.
Em última análise, há a repaginação da própria arte, que havia se diluído como forma de retratar o mundo, ao adquirir métodos próprios do positivismo em detrimento do olhar o artista. É um resgate da ars poética, ou seja, o poeta é aquele que detém o saber, de como obrar, daí o termo obra, comoem obra de arte.[3]
Esse resgate abre o caminho para futuros movimentos como o Modernismo que elevou a expoente máximo os experimentos através de suas denominadas "vanguardas". A verdadeira vanguarda, no entanto, foi realizada pelos simbolistas. Sob essa nova lente, o Simbolismo torna-se um movimento de vanguarda e o dito "Modernismo" se configura como uma estética que bebe na fonte do Simbolismo.
Dessa vertente, há obras do primeiro quartel do século XX que resgatam as obras simbolistas ou fazem delas uma releitura, como é o caso do leitor Drummond:
Há também a construção da figura do poeta como um ser incompreendido pela mediocridade dos coetâneos dos autores, construindo, assim, a "teoria do poeta maldito"[4].
Quem define com maestria acondição dramática de poeta é Júlio Perneta
PUDESSEM os meus sonhos levar dentro das páginas de cada livro meu a vibração dos meus nervos de Artista, as orações em febre dos meus lábios de Asceta, as divinas blasfêmias da minha divina revolta, a estrela de ouro do meu ideal, as minhas nostalgias azuis, o arco-íris do meu Tédio, as asfixias dos meus eternos pesadelos, tudo, tudo, toda essa grande dor que dá a alma dos intelectuais a nota abandonada de uma paisagem fúnebre, toda essa tortura que lhes vincula a fisionomia à passagem de uma esperança morta. Como sonhar, se a vida é um protesto contra o sonho, se a vida é um cadafalso, onde a Miséria, algoz impertinente, nos faz agonizar cem vezes cada dia? Como sonhar?
Vale registrar nesse ponto o poeta simbolista é fruto do seu momento histórico e, assim, espelha o mal-estar diante do processo contraditório de nossa urbanização e de nosso desenvolvimento econômico, principalmente após diversos fatos históricos em cadeia, como foi o caso da Proclamação da República, da libertação dos escravos, da desilusão científica e da impotência da industrialização, aqueles no Brasil, estas em âmbito mundial.
O resumo de todo o fazer poético simbolista está registrado em Antífona, novamente Cruz e Souza:
Antífona
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas! Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das arasFormas do Amor, constelarmante puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas ... Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... Visões, salmos e cânticos serenos, Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... Dormências de volúpicos venenos Sutis e suaves, mórbidos, radiantes... Infinitos espíritos dispersos, Inefáveis, edênicos, aéreos, Fecundai o Mistério destes versosCom a chama ideal de todos os mistérios. Do Sonho as mais azuis diafaneidades Que fuljam, que na Estrofe se levantem E as emoções, todas as castidades Da alma do Verso, pelos versos cantem.Que o pólen de ouro dos mais finos astros Fecunde e inflame a rima clara e ardente... Que brilhe a correção dos alabastros Sonoramente, luminosamente. Forças originais, essência, graça De carnes de mulher, delicadezas... Todo esse eflúvio que por ondas passa Do Éter nas róseas e áureas correntezas...Cristais diluídos de clarões alacres, Desejos, vibrações, ânsias, alentos Fulvas vitórias, triunfamentos acres, Os mais estranhos estremecimentos... Flores negras do tédio e flores vagas De amores vãos, tantálicos, doentios... Fundas vermelhidões de velhas chagas Em sangue, abertas, escorrendo em rios...Tudo! vivo e nervoso e quente e forte, Nos turbilhões quiméricos do Sonho, Passe, cantando, ante o perfil medonho E o tropel cabalístico da Morte...
3.ALEGORIAS PESSIMISTAS:
Há um lirismo mortuário tanto em Cruz e Souza como em Alphonsus de Guimaraens. Este sofre a morte da mulher amada, Ismália, tema sobre o qual se debruça o poeta ao longo de sua obra:
Hão de chorar por ela os cinamomosMurchando as flores ao tombar do diaDos laranjais hão de cair os pomosLembrando-se daquela que os colhia.As estrelas dirão: - "Ai, nada somos,Pois ela se morreu silente* e fria..."E pondo os olhos nela como pomos,Hão de chorar a irmã que lhes sorria.A lua que lhe foi mãe carinhosaQue a viu nascer e amar, há de envolvê-laEntre lírios e pétalas de rosa.Os meus sonhos de amor serão defuntos...E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?"
Quando Ismália enlouqueceu,Pôs-se na torre a sonhar...Viu uma lua no céu,Viu outra lua no mar.No sonho em que se perdeuBanhou-se toda em luar...Queria subir ao céu,Queria descer ao mar...E, no desvario seuNa torre pôs-se a cantar...Estava perto do céu,Estava longe do mar...E como um anjo pendeuAs asas para voar...Queria a lua do céu,Queria a lua do mar...As asas que Deus lhe deuRuflaram de par em par...Sua alma subiu ao céu,Seu corpo desceu ao mar
A temática macabra continua em Acrobata da Dor, de Cruz e Souza:
Acrobata da Dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta, como um palhaço, que desengonçado, nervoso, ri, num riso absurdo, inflado de uma ironia e de uma dor violenta. Da gargalhada atroz, sanguinolenta, agita os guizos, e convulsionado salta, gavroche, salta clown, varado pelo estertor dessa agonia lenta ... Pedem-se bis e um bis não se despreza! Vamos! retesa os músculos, retesa nessas macabras piruetas d'aço... E embora caias sobre o chão, fremente, afogado em teu sangue estuoso e quente, ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Continua a descrição da dor como uma alegoria em Eduardo Guimaraens:
Chopin: Prelúdio Nº 4
de Eduardo Guimaraens
Do fundo do salão vem-me o seu pranto sobre-humano,como do fundo irreal de um desespero hoje olvidado:dir-se-ia que estes sons têm um tom de ouro avioletado;há um anjo a desfolhar lírios de sombra sobre o piano.
Doce prelúdio! Que ermo e doloroso desenganofala, através do seu vago perfume de passado?Sobre Chopin a noite abre o amplo manto constelado:um delírio de amor anda por tudo, insone, insano!
Em cada nota solta há como um lânguido lamento.– Oh, a doçura de sentir que o teu olhar, perdido,sonha, recorda e sofre, ao doce ritmo vago e lento!
E o silêncio! E a paixão que abre em adeus as mãos absortas!E o passado que volta e traz consigo, inesquecido,um aroma secreto e vago e doce, a flores mortas![5]
B)QUANTO À FORMA:
1.MUSICALIDADE:
O poeta busca comparar o seu fazer poético com o do músico, ao compor com suas notas musicais uma obra e com o pintor, ao selecionar seu tema e a palheta de cores. Assim, imprime tais recursos à linguagem, o que é, nos causa estranheza, de certo modo, pois somos bombardeados por imagens, como reza Ítalo Calvino:
Resta-me esclarecer a parteque nesse golfo fantástico cabe ao imaginário indireto, ou seja, o conjunto de imagens que a cultura nos fornece, seja ela cultura de massa ou outra forma qualquer de tradição. Esta questão suscita de imediato uma outra: que futuro estará reservado à imaginação individual nessa que se convencionou chamar " a civilização da imagem"? O poder de evocar imagens in absentia continuará a desenvolver-se numa humanidade cada vez mais inundada pelo dilúvio das imagenspré-fabricadas? Antigamente a memória visiva de um indivíduo estava limitada ao patrimônio de suas experiências diretas e a um reduzido repertório de imagens refletidas pela cultura; a possibilidade de dar forma a mitos pessoais nascia do modo pelo qual os fragmentos dessa memória se combinavam entre si em abordagens inesperadas e sugestivas.
E continua:
Hoje somos bombardeados por uma tal quantidade de imagens a ponto de não podermos distinguir mais a experiência direta daquilo que vimos há poucos segundos na televisão. Em nossa memória se depositam, por estratos sucessivos, mil estilhaços de imagens, semelhantes a um depósito de lixo, onde é cada vez menos provável que uma delas adquira relevo.
Outra explicação para a utilização da musicalidade é o acesso fácil que a música adquire junto ao subconsciente das pessoas, acessando, assim, camadas mais profundas da sensibiidade humana, intento máximo do artista simbolista e de diversos publicitários nos dias de hoje ( "compre batom, compre batom..."
São obtidos efeitos de sentido sonoro através das técnicas abaixo:
Aliteração:sons consonantais
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas
Cruz e souza
Assonância: sons vocálicos
Quando a manhã madrugava
Calma
Alta
Clara
Clara morria de amor. (Eugenio de Castro)
Reiteração: repetição de palavras ou versos inteiros:
Soam suaves sonolentos,
Sonolentos e suaves........ (Cruz e Souza)
2.Emprego abundante de sinestesia:
Pode-se definir sinestesia como a relação atribuída de modo subjetivo entre sensações diferentes, atribuídas a sentidos diversos. Podemos vê-las nos clássicos exemplos poeta simbolista Pedro Kilkerry
a)Palpitando aos mastros
Ao som vermelho da canção de guerra.
b)Como a doçura quente de um carinho...
c)Mas uma voz de súbito. Gemendo
Sob o silencio côncavo dos astros
Em resumo, o simbolismo foi um movimento vanguardista, no sentido em que forjou uma busca pelo novo gosto estético, revisitado, em seguida, pelos denominados modernistas. Poucas vezes ele é tratado como tal nos livros didáticos, que desmerecem o movimento literário que criou a metáfora com uma carga exponencial de sentidos, que é osímbolo [6].
BIBLIOGRAFIA
4.CALVINO, Italo – Seis propostas para o próximo milênio. Trad. Ivo Barroso –São Paulo: Companhia das letras, 1990.
5.CAROLLO, Cassiana L. Decadismo e simbolismo no Brasil. Crítica e poética. 2 v. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; Brasília: INL, 1981
6.COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. Rio de Janeiro, São José, 1959.
7.FIORIN,José Luiz & SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Àtica, 1998.
8.GONÇALVES, Magaly Trindade et ali. Antologia comentada da Literatura Brasileira: poesia e prosa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
9.INSTITUTO Cultural Itaú, São Paulo. Parnasianismo; simbolismo. São Paulo: ICI,
10.MONTENEGRO, ABELARDO F. Cruz e Sousa e o Movimento Simbolista no Brasil – Florianópolis, SC - Fundação Catarinense de Cultura, - 1988
11.MURICY, Andrade. Panorama do Movimento simbolista brasileiro. MURICY, Andrade.. 2 v.3ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1987.
12.NETO, Raimundo Barbadinho. Antologia de textos do modernismo. Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1982.
13.SOUZA, Cruz e. Broquéis. Ensaio introdutório de Ivan Teixeira, São Paulo: USP, 1994.
[1] TEIXEIRA, Ivan. Cem anos de broqueis: sua modernidade.
[2]Erotismo e transgressão em Alphonsus de Guimaraens. Extraído em 15.06.08 de http://www.letras.ufmg.br/cesp/textos/(2002)14-Erotismo e transgress%E3o.pdf
[3]http://en.wikipedia.org/wiki/Ars_Poetica
[4] TEIXEIRA, Ivan, op. cit p. XXX.
[5]Blog dos Poetas : Chopin: Prelúdio Nº 4 - Poemas de escritores famosos e consagrados
[6] Há uma intensidade na busca por esse termo, mas a psicanálise jungiana é a tese que mais se aproxima do sentido artístico do símbolo: "Os símbolos "freudianos", segundo Jung, não são símbolos: são sinais. Isto porque eles se referem ao que já é conhecido, enquanto que os verdadeiros símbolos se referem ao que não é conhecido; são formas únicas e especiais de expressar alguma coisa, talvez uma aproximação entre partes antes irreconciliáveis do caráter de uma pessoa. Num nível mais cultural (isto é, não restrito a qualquer indivíduo único), um símbolo como Cristo une o etéreo e o corpóreo, o humano e o divino, o realizado e o abatido-na-flor-da-idade." , SAMUELS, Andrew
IN: http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/simbolostransformacaojung.

BOCAGE

BOCAGE

Manuel Maria Barbosa Du Bocage


vida

A vida da maioria dos poetas é, até certo ponto, desvinculada da sua obra. No caso de Bocage, isso não ocorre porque obra e vida estão tão ligadas que pode-se entender a vida desse excepcional poeta por meio de sua obra e vice-versa. Um fato indiscutível sobre Bocage é a imagem de obsceno que o acompanha ao longo da história, mas essa fama trata-se de uma injustiça, pois Bocage foi um dos mais sérios e complexos poetas de toda a nossa história literária.Para entender melhor porque Bocage ficou conhecido como libertino e como foi a sua vida clique nos links ao lado e viaje na vida de um dos maiores sonetistas da história da Literatura Portuguesa.

origem

15 de outubro de 1765, nasce em Setúbal o poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage. Ele é o quarto dos seis filhos do advogado José Luís Soares Barbosa e de Maria Joaquina Lestof du Bocage. Desde cedo Bocage entra em contato com as letras. Aos oito anos escreve e lê com certa desenvoltura e logo surgem as primeiras composições, que superam os dotes artísticos do pai, que também versejava.
"Das faixas infantis despido apenas,Sentia o socro fogo arder na mente;Meu terno coração inda inocenteIam ganhando as plácida Camenas."
Depois da morte da mãe, quando o poeta tinha apenas dez anos, Bocage é mandado estudar com D. João de Medina, com quem aprende Latim, língua essa que lhe seria muito útil nas posteriores atividades como tradutor. Bocage aprende ainda francês com o pai e italiano sendo, nessa língua, segundo alguns biógrafos, autodidata.Por volta de 1781 Bocage foge de casa e assenta praça, como soldado, no regimento de Setúbal. Dois anos depois ingressa no corpo da Marinha Real e vai para Lisboa onde entra em contato com a boemia e a vida intelectual desse lugar. O Bocage dessa época é um poeta atraído pelos clássicos gregos e também pelos clássicos da sua terra, como por exemplo: Camões, que era, como o próprio nos mostra no fragmento do soneto abaixo, o seu modelo.
"Camões, grande Camões, quão semelhanteAcho teu fado ao meu, quando os cotejo!Igual causa no fez perdendo o TejoArrostar co sacrílego gigante:
Modelo meu tu és... Mas, oh tristeza!... Se te imito nos transes da ventura, Não te imito nos dons da Natureza."
Os versos de Bocage, nessa fase, estão presos aos valores literários da época. Eles são corretíssimos, ou seja, perfeitos na rima e na métrica, porém, são pouco originais e nada espontâneos. O próprio Bocage criticou, anos mais tarde, a a sua falta de criatividade, como pode ser observado no fragmento do soneto abaixo:
"Incultas produções da mocidadeExponho a vossos olhos, ó leitores: Vede-as com mágoa, vede-as com piedade, Que elas buscam piedade, e não louvores:
(...)
E se entre versos mil de sentimentoEncontrqades alguns, cuja aparênciaIndique festival contentamento,
Crede, ó mortais, que foram com violênciaEscritos pela mão do Figimento,Cantados pela voz da Dependência."
Ainda nesse período, sua poesia está repleta de Marílias, Fílis, Nises e tantas outras ninfas que se transformam em pastoras e vivem sob o clima pastoril que caracterizou as produções Árcades. A ninfa de maior destaque é Gertrúria, devido a quantidade de versos a ela dedicados, acredita-se que ela tenha sido o maior dos amores do poeta.

amores

Amores, Bocage teve muitos. E isso contribuiu para que o poeta ficasse conhecido ao longo da história como namorador e libertino. Em seus poemas surgem os nomes de Marília, Ritália, Márcia, Gertrúria etc. Há quem diga que todas elas são mulheres por quem o poeta enamorou-se.As duas primeiras, correspondem a Maria Margarida Rita Constâncio Alves, que alguns estudiosos apontam como a maior paixão do poeta. Márcia é um anagrana de Maria Vicencia e Gertrúria é Gertrudes Homem de Noronha, filha do governador da Torre de Outão em Setúbal, por quem o poeta enamorou-se logo cedo. Devido a quantidade de versos dedicados a Gertrúria, tudo leva a crer que tenha sido ela o grande amor do poeta. Ao seguir para a Índia, Bocage faz um poema expressando os seus sentimentos amororos: "Ah! Que fazes, Elmano? Ah! Não te ausentesDos braços de Gertrúria carinhosa: Trocas do Tejo a margem deleitosa Por bárbaro país, bárbaras gentes?
Um tigre te gerou se dó não sentesVendo tão consternada e tão saudosaA tágide mais linda e mais mimosa;Ah! Que fazes, Elmano? Ah! Não te ausentes
(...)"
Cabe aqui uma pergunta: Se Bocage estava realmente apaixonado por Getrúria por que abandonou o seu amor e seguiu viagem para Goa? Por receio de seus atos boêmios!Para seguir o caminho traçado por Camões!Para tentar carreira militar!Para conseguir um nome ilustre e ser digno de Gertrudes!Todas essas são possíveis respostas para essa pergunta, mas nenhuma delas pode ser comprovada com argumentos lógicos.

goa
A Goa que Bocage encontra é muito diferente daquela que Afonso de Albuquerque conquistou e que se tornou o mais importante centro comercial do Oriente. Seus governantes se vangloriam do seu luxo e riqueza, mas tudo isso é apenas aparente porque Goa está em franca decadência, o império está falido e a corrupção toma conta dos seus habitantes. Tudo isso deixa o poeta indignado como se pode ver no fragmento do soneto abaixo.
"Das terras a pior tu és, ó Goa,Tu pareces mais ermo, que cidade;Mas alojas em ti maior vaidadeque Londres, que Paris, ou que Lisboa"
Bocage, nos 28 meses que ficou em Goa, entrega-se a novos amores e pratica uma intensa vida boêmia. Vida essa que o deixa acamado por algum tempo. Depois de recuperado, toma parte, em prol da causa portuguesa, na "Conspiração dos Pintos", manifestação dos goeses com a intenção de expulsar os europeus do seu solo.Devido a participação nessa luta, Bocage é promovido a tenente de Infantaria e, a 14 de março de 1789, é transferido para Damão. No entanto, o poeta permanece pouco tempo nesse lugar, porque ele deserta da Marinha Real, logo em seguida, e segue para Macau. Vale lembrar que nessa época a deserção não era considerada uma falta tão grave, como nos dias de hoje.Durante a viagem seu barco é atingido por um ciclone e ele acaba aportando em Cantão. Ali, apesar da vida ter-lhe sido muito dura, Bocage obtem meios para chegar a Macau, onde generosamente é acolhido por um comerciante local que o apresenta ao Governador e esse o auxilía no regresso a Portugal.
amargo regresso

Bocage que regressa a Lisboa em 1790 é o mesmo poeta que havia partido há quatro anos, ou seja, as viagens pelo Brasil, Goa, Cantão e Macau de nada serviram para o enriquecimento de sua poesia. Esse panorama só é alterado quando Bocage descobre que Gertrudes, o seu grande amor, havia se casado justamente com seu irmão Gil Bocage. Isso faz com que o poeta passe a levar uma vida totalmente desgarrada. Desnorteado, ele se entrega a bebida e ao fumo. Sua presença na boêmia de Lisboa é cada vez mais constante e Bocage começa a ganhar fama de obsceno. Essa reputação faz com que o nome Bocage, para as pessoas que não conhecem a sua obra, tenha o significado de pervertido, coisa ruim, de mal gosto etc. Nessa época, por ser um homem que freqüentava as ruas, Bocage entra em contato com os ideais da Revolução Francesa, lê os iluministas e conhece o liberalismo político e cultural. Tudo isso faz com que a poesia de Bocage sofra visíveis transformações, o poeta é um vulcão que derrama sonetos e mais sonetos que defendem essas novas idéias. Sanhudo, inexorável Despotismo,Mostro que em pranto, em sangue a fúria cevas,Que em mil quadros horríficos te enlevas, Obra da Iniquidade e do Ateísmo;
Assanhas o dando FanatismoPorque te escore o trono onde te enlevas;Porque o sol da Verdade envolva em trevas, E sepulta a Razão num denso abismo:
Da sagrada Virtude o colo pisas,E aos satélites vis prepotênciaDe crimes infernais o plano gizas:
Mas, apesar da bárbara insolência, Reinas só no ext'rior, não tiranizas Do livre coração a independência.

nova arcádia

Em 1790 Bocage ingrassa na Nova Arcádia. Essa Instituição foi fundada nesse mesmo ano por Domingos Caldas Barbosa e pretendia dar continuidade às idéias da Arcádia Lusitana ou Ulissiponense. Entre os principais ideais da Nova Arcádia estão a Inutilia truncat, cortar o inútil; a retomada da concisão e clareza que foi desprezada pelo Barroco; valorização da paisagem campestre, considerada ideal para a realização do amor (locus amenus); a busca da harmonia entre a razão e o sentimento.)Os integrantes da Nova Arcádia se reuniam todas às quartas-feiras para a leitura e declamações de poemas. Por isso, essa reuniões ficaram conhecidas como "quarta-feiras de Lereno". Além disso, cada membro tinha que adotar um nome literário, espécie de pseudônimo. Domingos Caldas adotou o nome de Lereno, Bechior Semedo, o de Belmiro. O nome escolhido por Bocage foi Elmano Sadino. Elmano é uma inversão do nome Manoel (EL/MANO/EL) e Sadino vem de Sado, rio banha Setúbal, cidade em que o poeta nasceu. O tempo de permanência de Bocage nessa instituição foi curto, durou apenas quatro anos, e foi muito conturbado. Devido a vários conflitos ideólogicos e literários com os membros da Nova Arcádia, Bocage é expulso dessa agremiação por irreverência, boemia e insubmissão às normas acadêmicas.Nessa época o "Bocage Satírico" mostra toda a sua força ao ridicularizar seus adversários, o principal deles era Domingos Caldas, presidente/fundador da Nova Arcádia, a quem Bocage retrata, em seus versos, como demônio, cão pachorrento etc. No ano de 1794 a Nova Arcádia é extinta, sendo que o próprio Bocage colaborou muito para que isso ocorresse. Dessa forma, percebe-se que Bocage fez parte da fase decadente do Arcadismo e não do período áureo desse movimento. Reforçando essa idéia, temos ainda o fato de várias de suas poesias criticarem o formalismo da Nova Arcádia e o convencionalismo daquela época.
Aos sócios da Nova Arcádia
Vós, ó Franças, Semedos, Quintanilhas,Macedos e outras pestes condenadasVós, de cujas buzinas penduradasTremem de Jove as melindrosas filhas:
Vós, néscios, que mamais da vis quadrilhasDo baixo vulgo insossas gargalhadas,Por versos maus, por trovas aleijadas,De engenhais as vA pena Satírica de Bocage não atacou apenas os membros e as regras estilísticas da Nova Arcádia. Somam-se a essa lista os poderes da Inquisição, o despotismo da Monarquia portuguesa e o fanatismo religioso.O pensamento irreverente e liberal de Bocage, que se traduzia em versos aplaudidos e repetidos pelo povo, faz com que o poeta seja preso após a divulgação da "Epístola a Marília" ou "Pavorosa Ilusão da Eternidade" e de um soneto dedicado a Napoleão, obras essas, consideradas uma ameça a segurança do Estado e da Igreja. Bocage é conduzido, em 1797, à prisão do Limoeiro. Nesse mesmo ano é transferido para o Hospício de Nossa Senhora das Necessidades onde o Frei Joaquim de Fôios está incumbido de doutrinar o poeta.Assim foi o fim do primeiro Bocage. No entanto, após a prisão nos cárceres da Inquisição, surge um outro Bocage que agora está reconciliado com os princípios religiosos e com os companheiros da Nova Arcádia, a quem ironizou. Esse novo Bocage é considerado por muitos estudiosos como um poeta menor que o primeiro. Isso se dá porque o Bocage que ficou na memória do povo é o poeta boêmio, satírico e erótico que freqüentava, principalmente, o bar do Niocola, que fazia uma poesia que rompia com os padrões neoclássicos e que popularizou-se de tal modo que chegou ao Brasil e ainda permanece vivo em um imenso anedotário, de bom e mal gosto, que lhe é atribuído. Depois de libertado, Bocage, para sustentar sua irmã, Maria Francisca, que está desamparada, passa a exercer atividades de tradutor e tarefas similares."Já Bocage não sou!... À cova escuraMeu estro foi parar desfeito em vento...(...)Outro Aretino fui... A santidade Manche!...Oh! se me creste, gente ímpia,Rasga meus versos, crê na eternidade" Cabe aqui uma pergunta: Será que o poeta, após cumprir sua pena, realmente arrependeu-se?Alguns de seus sonetos nos mostram que sim. No entanto, seus hábitos boêmios, que ao longo dos anos delibitaram a saúde e que o levam a morte, vitíma de um aneurisma, em 21 de dezembro de 1805, não mudaram totalmente e isso nos dá a entender que não. Arrependido ou não, Bocage, devido à perspectiva de morte que se aproximava, torna-se emotivo, sensível, e mergulha sua poesia em um profundo subjetivismo. Dessa forma, Bocage despe-se totalmente do figimento Neoclássico e prepara o terreno para o advento do Romantismo. "Pavorosa ilusão da Eternidade,Terror dos vivos, cárcere dos mortos;D'almas vãs sonho vão, chamado Inferno,Sistema da política opressoraFreio que a mão dos déspotas, dos bonzos,Forjou para boçal credulidade;Dogma funesto, que o remorso arreigasNos ternos corações, e paz lhe arrancas;Dogma funesto, detestável crença,Que envenenas delícias inocentesTais como aquelas que no céu se fingem!Fúrias, Cerastes, Dragos CentimanosPerpétua escuridão, perpétua chamaIncompatíveis produções do engano,Do sempiterno horror terrível quadro,(Só terrível aos olhos da ignorância):Não, não me assombram tuas negras cores;Dos homens o pincel e a mão conheço.Trema de ouvir sacrílego ameaçoQuem dum Deus, quando quer, faz um tirano;Trema a superstição; lágrimas, preces,Votos, suspiros arquejando espalhe,Cosa as faces co'a terra, os peitos fira,Vergonhosa piedade, inútil vêniaEspere às plantas do impostor sagrado,Que ora os infernos abre, ora os ferrolha...."ossas maravilhas:
Deixe Elmano, que inicente e honradoNunca de vós se lembra, meditandoEm coisas sérias, de mais alto estado:
E se quereis, os olhos alongando,Ei-lo! Vede-o no Pindo recostado,De perna erguida sobre vós...!

sofrimentos

A pena Satírica de Bocage não atacou apenas os membros e as regras estilísticas da Nova Arcádia. Somam-se a essa lista os poderes da Inquisição, o despotismo da Monarquia portuguesa e o fanatismo religioso.O pensamento irreverente e liberal de Bocage, que se traduzia em versos aplaudidos e repetidos pelo povo, faz com que o poeta seja preso após a divulgação da "Epístola a Marília" ou "Pavorosa Ilusão da Eternidade" e de um soneto dedicado a Napoleão, obras essas, consideradas uma ameça a segurança do Estado e da Igreja. Bocage é conduzido, em 1797, à prisão do Limoeiro. Nesse mesmo ano é transferido para o Hospício de Nossa Senhora das Necessidades onde o Frei Joaquim de Fôios está incumbido de doutrinar o poeta.Assim foi o fim do primeiro Bocage. No entanto, após a prisão nos cárceres da Inquisição, surge um outro Bocage que agora está reconciliado com os princípios religiosos e com os companheiros da Nova Arcádia, a quem ironizou. Esse novo Bocage é considerado por muitos estudiosos como um poeta menor que o primeiro. Isso se dá porque o Bocage que ficou na memória do povo é o poeta boêmio, satírico e erótico que freqüentava, principalmente, o bar do Niocola, que fazia uma poesia que rompia com os padrões neoclássicos e que popularizou-se de tal modo que chegou ao Brasil e ainda permanece vivo em um imenso anedotário, de bom e mal gosto, que lhe é atribuído. Depois de libertado, Bocage, para sustentar sua irmã, Maria Francisca, que está desamparada, passa a exercer atividades de tradutor e tarefas similares."Já Bocage não sou!... À cova escuraMeu estro foi parar desfeito em vento...(...)Outro Aretino fui... A santidade Manche!...Oh! se me creste, gente ímpia,Rasga meus versos, crê na eternidade" Cabe aqui uma pergunta: Será que o poeta, após cumprir sua pena, realmente arrependeu-se?Alguns de seus sonetos nos mostram que sim. No entanto, seus hábitos boêmios, que ao longo dos anos delibitaram a saúde e que o levam a morte, vitíma de um aneurisma, em 21 de dezembro de 1805, não mudaram totalmente e isso nos dá a entender que não. Arrependido ou não, Bocage, devido à perspectiva de morte que se aproximava, torna-se emotivo, sensível, e mergulha sua poesia em um profundo subjetivismo. Dessa forma, Bocage despe-se totalmente do figimento Neoclássico e prepara o terreno para o advento do Romantismo. "Pavorosa ilusão da Eternidade,Terror dos vivos, cárcere dos mortos;D'almas vãs sonho vão, chamado Inferno,Sistema da política opressoraFreio que a mão dos déspotas, dos bonzos,Forjou para boçal credulidade;Dogma funesto, que o remorso arreigasNos ternos corações, e paz lhe arrancas;Dogma funesto, detestável crença,Que envenenas delícias inocentesTais como aquelas que no céu se fingem!Fúrias, Cerastes, Dragos CentimanosPerpétua escuridão, perpétua chamaIncompatíveis produções do engano,Do sempiterno horror terrível quadro,(Só terrível aos olhos da ignorância):Não, não me assombram tuas negras cores;Dos homens o pincel e a mão conheço.Trema de ouvir sacrílego ameaçoQuem dum Deus, quando quer, faz um tirano;Trema a superstição; lágrimas, preces,Votos, suspiros arquejando espalhe,Cosa as faces co'a terra, os peitos fira,Vergonhosa piedade, inútil vêniaEspere às plantas do impostor sagrado,Que ora os infernos abre, ora os ferrolha...."

O “Forrest Gump” dentro de nós.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Nós gostamos de estória como mulheres gostam de chocolate.
O hábito de contar estórias nos remonta a tempos primitivos. O homem das cavernas contava estórias, após a caça, em meio a uma platéia atenta, curiosa e farta, ao redor da fogueira. E se lembrarmos do sultão, das “Mil e uma noites”, ludibriado por Xerazade a cada noite com suas estórias maravilhosas. Envolto nesse fantástico universo ficcional das estórias, nós criamos personagens, tramas, enredos, vivemos roteiros dignos de um filme hollywoodiano de sucesso garantido, nos enganando e enganando o público ouvinte. Quando estamos apaixonados então. Aquela fase do encantamento, na qual mentimos mentiras necessárias até, para envolver, seduzir nossa pretendida. Somos verdadeiros “Forrest Gumps”...
Sempre que converso com minha namorada sobre isso, perco-me em mais estórias. Somos sujeitos inventivos mesmo. Vemos ficção em tudo, supervalorizamos nossos atos e criamos personagens dentro de nós. E quando falamos do próximo... É pior ainda, ou melhor, porque a estória ganha em dramaticidade, em veracidade, em realismo (ficcional).
Ontem mesmo, disse-a:
- Amor, atenção pouca a conversa muita. E cuidado muito a palavras poucas.
Ou seja, quando discursamos muito nos perdemos em palavras, e a possibilidade de criarmos estórias é grande. Já quando falamos pouco é um perigo, porque as estórias que criamos podem estar nas entrelinhas.
Um forte abraço.
Marconi

EMC & OSPB

Eu sou do tempo em que moral e civismo se aprendia no berço e, sobretudo, na escola.
É verdade, sou do tempo em que Educação Moral e Cívica nos ensinava a ser cidadãos, a ter consciência de nossas responsabilidades, ética para com nossos amigos e, sobretudo, respeito à nossa pátria. Sou também do tempo em que Organização Social e Política Brasileira nos ensinava a verdade teórica da democracia, a importância de um pleito eleitoral, e consequentemente de se participar dele, o trabalho de nossos políticos, que hoje pouco conhecemos e menos damos importância, e de que todo ser humano é um indivíduo político, queira ou não.
Lembro bem da época em que enfileirados no pátio da escola cantávamos o Hino Nacional, depois de macharmos, em reverância à Bandeira do Brasil, nosso símbolo augusto da paz e pendão da esperança.
Não sei bem se aquilo mudou alguma coisa em minha vida, decerto sim. Não sou tão patriota porque fazia aquilo, pelo menos não me vejo assim. Mas não tem só a ver com patriotismo, não. Tem sim a ver com nostalgia. Encontro-me, nesse instante, nostálgico. Porque junto com essas lembranças, vem outros tantas de outros bons momentos em que só na escola é que temos a oportunidade de vivê-los.
A escola é realmente nosso mundo.
E a linguagem, nossa alma.
Um forte abraço.
Marconi

Aviso aos navegantes

Atenção! Atenção!
Quem é de Marte ou de Vênus pode chegar... Quem for daqui, da Terra, pode esperar... Está entrando no ar o blog que vai tirar vocês do sério, tirar vocês do lugar... Que irá mexer no cosmos, na ordem das coisas, na suprema inversão das invertidas cores, que vai dar nomes aos bois, aos dois e pois... e depois.
Aqui vocês vão se encontrar com possibilidades extremas, inigualáveis idéias, controversas palavras e diversas formas de conceber o mundo das letras e da literatura.
Preparem-se para esta viagem ao calabouço das almas, em busca do elo perdido dos signos, significantes e significados.
Um abraço forte.
Marconi