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GÊNEROS LITERÁRIOS

terça-feira, 10 de março de 2009

CONTO

Estrutura do Conto

1 – Unidade dramática
2 – Unidade de tempo
3 – Unidade de espaço
4 – Número reduzido de personagens
5 – Diálogo dominante
6 – Descrição e narração (tendem a anular-se)
7 – Dissertação (praticamente ausente)

CONTO – História completa e fechada como um ovo. É uma célula dramática, um só conflito, uma só ação. A narrativa passiva de ampliar-se não é conto.
Poucas são as personagens em decorrência das unidades de ação, tempo e lugar. Ainda em conseqüência das unidades que governam a estrutura do conto, as personagens tendem a ser estáticas, porque as surpreende no instante climático de sua existência. O contista as imobiliza no tempo, no espaço e na personalidade (apenas uma faceta de seu caráter).
O conto se semelha a uma tela em que se fixasse o ápice de uma situação humana.
ESTRUTURA - É essencialmente objetivo, horizontal e narrado em 3ª pessoa. Foge do introspectivismo para a realidade viva, presente, concreta.
Divagações são escusadas. Breve história. Todas as palavras hão de ser suficientes e necessárias e devem convergir para o mesmo alvo. O dado imaginativo se sobrepõe ao dado observado. A imaginação, necessariamente presente, é que vai conferir à obra o caráter estético. Jamais se perde no vago. Prende –se à realidade concreta. Daí nasce o realismo, a semelhança com a vida.
LINGUAGEM – Objetiva; utilizar metáforas de imediata compreensão para o leitor; despe –se de abstrações e da preocupação com o rebuscamento.
O conto desconhece alçapões subterrâneos ou segundas intenções. Os fatos devem estar presentes e predominantes. Ação antes da intenção.
Dentre os componentes da linguagem do conto, o dialógo é o mais importante de todos. Está em primeiro lugar; por dramático, deve ser tanto quanto possível dialogado.
Os conflitos, os dramas residem na fala das pessoas, nas palavras ditas, não no resto. Sem diálogos não há discórdia, desavença ou mal – entendido e, sem isso, não há conflito e nem ação.
As palavras como signos de sentimentos, de idéias, emoções, podem construir ou destruir. Sem diálogo torna –se impossível qualquer forma completa de comunicação. A música e a dança transmitem parcialmente tudo o que o homem sente ou pensa. O meio ideal de comunicação é a palavra, sobretudo na forma de diálogo.
O diálogo é a base expressiva do conto: diálogo direto, indireto e interior.
No conto, predomina o diálogo direto que permite uma comunicação imediata entre o leitor e a narrativa.
Se usado diálogo indireto em excesso, o conto falha ou é de estreante.
Diálogo interior: trata –se de um requintado expediente formal, de complexo e difícil manuseio.
Outro expediente lingüístico é a narração, que deve aparecer em quantidade reduzida, proporcional ao diálogo.
Os escritores neófitos ou inexperientes usam e abusam da narração, por ser um recurso fácil, que prescinde das exigências próprias do diálogo. É um recurso que tende a zero no conto.
A descrição ocupa semelhante lugar na estrutura do conto. Está fora de cogitação o desenho acabado das figuras. Ao contrário, o conto não se preocupa em erguer um retrato completo das personagens, mas centram –se nos conflitos entre as personagens.
A descrição da natureza, ou do ambiente, ocupa ainda mais modesto, pois o drama expresso pelo diálogo, dispensa o cenário. O drama mora nas pessoas, não nas coisas e nem na roupagem.
A descrição completa-se com 2 ou 3 notas singelas, apenas para situar o conflito no espaço.
TRAMA - Linear, objetiva. A cronologia do conto é a relógio, de modo que o leitor vê os fatos se sucederem numa continuidade semelhante à vida real.
O conto, ao começar, já está próximo do epílogo. A precipitação domina o conto desde a primeira linha.
No conto, a ação caminha claramente à frente. Todavia, como na vida real, que pretende espelhar, de um momento para o outro deflagra o estopim e o drama explode imprevistamente. A grande força do conto e o calvário dos contistas consiste no jogo narrativo para prender o interesse do leitor até desenlace, que é, regra geral, um enigma.
O final enigmático deve surpreender o leitor, deixar – lhe uma semente de meditação ou de pasmo perante a nova situação conhecida.
A vida continua e o conto se fecha inseqüente.
Casos há em que o enigma vem diluindo no decorrer do conto. Neste caso ele se aproxima da crônica ou corresponde a episódio de romance.
FOCO NARRATIVO – 1ª e 3ª pessoas. O conto transmite uma única impressão ao leitor.
Começo e epílogo: O epílogo do conto é o clímax da história. Enigmático por excelência, deve surpreender o leitor.
O contista deve estar preocupado com o começo, pois das primeiras linhas depende o futuro do resto, do que terminar.
O começo está próximo do fim. E o contista não pode perder tempo com delongas que enfastiam o leitor, interessado no âmago da história.
O início é a grande escolha. O contista deve saber como começar, o romancista.
A posição do leitor diante do conto é de quem deseja, às pressas, desentediar – se. Ele procura no conto o desenfado e o deslumbramento perante o talento que coloca em reduzidas páginas tanta humanidade em chama.
O contista sacrifica tudo quanto possa perturbar a idéia de completude e unidade.

CONCLUSÃO

A narrativa passível de ampliar-se ou adaptar-se a esquema diversos, ainda que o seu autor a considere, impropriamente, não pode ser classificada de conto.


CRÔNICA

A crônica é um gênero híbrido que oscila entre a literatura e o jornalismo, resultado da visão pessoal, particular, subjetiva do cronista ante um fato qualquer, colhido no noticiário do jornal ou no cotidiano. É uma produção curta, apressada (geralmente o cronista escreve para o jornal alguns dias da semana, ou tem uma coluna diária), redigida numa linguagem descompromissada, coloquial, muito próxima do leitor. Quase sempre explora a humor; mas às vezes diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa – fiada. Noutras, despretensiosamente faz poesia da coisa mais banal e insignificante.
Registrando o circunstancial do nosso cotidiano mais simples, acrescentando, aqui e ali, fortes doses de humor, sensibilidade, ironia, crítica e poesia, o cronista, com graça e leveza, proporciona ao leitor uma visão mais abrangente que vai muito além do fato; mostra –lhe, de outros ângulos, o sinal de vida que diariamente deixamos escapar.

Um rápido confronto entre conto e crônica

A crônica é o relato de um flash, de um breve momento do cotidiano de uma ou mais personagens. O que diferencia a crônica do conto é o tempo, a apresentação da personagem e o desfecho.
No conto, as ações transcorrem num tempo maior: dias, meses, até anos, o que não se dá na crônica, que procura captar um lance curioso, um momento interessante, triste ou alegre. No conto, a personagem é analisada e/ou caracterizada, há maior densidade dramática e freqüentemente um conflito, resolvido em desfecho. Na crônica, geralmente não há desfecho, esse fica para o leitor imaginar e, depois, tirar suas conclusões. Uma das finalidades da crônica é justamente apresentar o fato, nu, seco e rápido, mas não concluí-lo. A possível tese fica a meio caminho, sugerida, insinuada, para que o leitor reflita e chegue a ela por seus próprios meios.
Vamos supor que você surpreenda um garoto pobre tremendo de frio e olhado fixamente para um pulôver novinho na vitrina duma loja. Ora, isso dá uma excelente crônica. Você relataria o flash, a cena em si, mas não o desfecho: o menino comprou ou não o pulôver? Nada disso. Acabando de "pintar" o quadro, terminaria o texto, deixando o leitor a tarefa de refletir sobre a miséria, a fome, a má distribuição de renda, a injustiça social etc. É essa, muita vezes, a finalidade da crônica e a intenção do cronista. Seu texto não tem resolução, não tem moral como na fábula, é aberto para que cada leitor crie o final que melhor desejar. O cronista, no fundo, deseja que seu leitor seja um co-autor. A crônica, grosso modo, equivale à ilustração dum texto dissertativo, sendo um meio-termo entre narração e dissertação.

PROSA

Por tratar-se de temas definidos por vários literatos, necessário foi pesquisar diversos autores. O ponto convergente das definições procurei trazê-las, de modo claro, compreensível até para um estudante de primeiro grau. Falarei, primeiramente sobre a Prosa. Esta é a maneira em que nos expressamos diariamente. Ela é objetiva, obedece à razão que a ordena e equilibra simultaneamente com a sensibilidade.
Usa a metáfora prosaíca. A linguagem da prosa retrata, descreve, narra, fixa os aspectos históricos, visíveis, sujeitos à observação de todos – é linguagem denotativa. A linguagem adquire logicidade e ritmo próprio que a aproxima da linguagem filosófica.
A prosa é a expressão do " não-eu", do objeto, segundo Massaud Moisés. Quem escreve pensa e sente dirigindo-se para fora de si próprio, procurando seu núcleo de interesse na realidade exterior.
A prosa literária se desenvolveu com o Romantismo, a partir do século XVIII. Temos, na prosa, o conto, o romance, a novela, a fábula, o apólogo, a anedota etc.
A prosa representativa abrange o teatro, com suas manifestações: tragédia, comédia, farsa, mistério, milagre etc.
Na prosa expositiva há a crítica, a história, a carta, o ensaio, etc.


O Conto


A palavra "conto" veio do grego Kontos; do latim contu.
Para Soares Amora, o conto é breve simples narrativa, é mais antigo e comum na história das literaturas, que as longas narrativas. Foi cultivado pelos árabes, na Europa Ocidental, na Espanha, na Itália, na França, na Rússia e outros países.
Tornou-se gênero narrativo bastante estimado.
É narrativa pouco extensa, concisa, devendo contar unidade dramática, concentrando-se a ação num único ponto de intesse.
O conto deve ter um só conflito, uma só ação. Deve ser narrado em terceira pessoa e ter epílogo surpreendente, boa trama linear. O diálogo é imprescindível no conto. E deve ter objetividade de ação, de lugar e de tempo.

A crônica

Do latim Chronica . Para Aurélio Buarque de Holanda, crônica é a narraçãp histórica ou registro de fatos comuns feitos por ordem cronológica. Em suma, é um pequeno conto de enredo indeterminado. O estilo é coloquial, versando sobre acontecimentos reais, fatos ou idéias da atualidade, de teor artístico, político, esportivo etc ou relativos à vida quotidiana. A posição do cronista deve ser tal, da maneira que não penda para o vulgar, nem para o humor, nem para a filosofia. Muitas revistas, no passado, tornaram-se conhecidas por suas crônicas impecáveis. Nos jornais destes tempos ainda encontramos boas crônicas, cuja temática é variada e bem interessante. A crônica pode atingir a obra de arte, como sucedeu à epístola, a qual precedeu cronologicamente à crônica, em tempos antigos.

Maria Siriani Del Nero
Membro fundador da ASES e da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas literárias de Brasília.


Bibliografia:

Massaud Moisés – A criação literária
Antonio Soares Amora - Teoria da Literatura
Aurélio Buarque de Holanda- Dicionário da Língua Portuguesa
José Paulo Paes e Massaud Moisés – Pequeno Dicionário da Literatura Brasileira.
Sergio Milliet – De ontem, de hoje e de sempre.

VERSIFICAÇÃO

METRO

Metro é a medida ou extensão da linha poética.


Os poetas de língua portuguesa têm usado, dentro da poética tradicional, doze espécies de versos: de uma até doze sílabas. São relativamente raros os exemplos de versos metrificados que ultrapassam esta medida.
Segundo o número de sílabas, os versos se dizem monossílabos, dissílabos, trissílabos, tetrassílabos, pentassílabos, hexassílabos, heptassílabos, octossílabos, eneassílabos, decassílabos, hendecassílabos e dodecassílabos.
Alguns versos possuem ainda denominações especiais: redondilha menor (o de 5 sílabas), redondilha maior (o de 7 sílabas), heróico (o de 10 sílabas), alexandrino (o de 12 sílabas).
As sílabas métricas, isto é, as sílabas dos versos, nem sempre coincidem com as sílabas gramaticais. A contagem das sílabas métricas faz-se auditivamente e subordina-se aos seguintes princípios:
l) Quando duas ou mais vogais se encontram no fim de uma palavra e começo de outra, e podem ser pronunciadas numa só emissão de voz, unem-se numa única sílaba métrica. Exemplos:

"A i|da|de aus|te|ra e | no|bre a | que | che|ga|mos."
(Alberto de Oliveira)

1 2 A|cha em | lu|gar | da | gló|ria o| lo|do im|pu|ro."
(Olavo Bilac)

Observações:

a) Para que tais uniões vocálicas não sejam duras e malsoantes, as vogais (pelo menos a primeira delas) devem ser átonas e não passar de três;
b) Não se unem vogais tônicas (vi | ó|dios; es|tá | ú|mi|do, etc.) nem é aconselhável juntar tónicas com átonas (a|li | o | ve|jo; se|rá |es|po|sa, etc.).
2) Ditongos crescentes valem, geralmente, uma só sílaba métrica: de-lí-cia, pie-do-so, tê-nue, per-pé-tuo, sá-bio, quie-to, i-ní-quo:

0|pe|rá|rio | mo|des|to, a|be|lha |po|bre.
(Olavo Bilac)

Observação:

As vezes, porém, poetas dissolvem ditongos crescentes em hiatos. A esta dissolução chama-se diérese:

"Nem | fez | cas|te |los | gran|di|o|sos

so|bre as | a|rei |as | mo|ve |di |ças?"
(Cabral do Nascimento)

3) Não se conta(m) a(s) sílaba(s) que segue(m) ao último acento tônico do verso. Exemplo:

"Quan|do | no | poen|te o | sol | des |do|bra as |clâ|mides
de | san|gue e | de oi| ro | que | nos | om |bros | le|va,"
(Cabral do Nascimento)

Observação:

Esta regra só atinge versos graves (= os que terminam por palavra paroxítona) e esdrúxulos (= os que terminam por palavra proparoxítona).

Nos versos agudos (= os que terminam por palavra oxítona), contam-se, é óbvio, todas as sílabas:

"Dei|xa | cor |rer |a | fon|te | da i |lu |são!"
(Cabral do Nascimento)


PROCESSOS PARA A REDUÇÃO DO NÚMERO DE SÍLABAS MÉTRICAS


Para atender às exigências da métrica, os poetas recorrem à:
1) crase (fusão de duas vogais iguais numa só):
acalma [al-ma]; o ódio [d-áio]; fogé~è grita [fo-ge-gri-ta]
2) elisão (supressão da vogal átona final de um vocábulo, quando o seguinte começa por vogal):
Ela estava só [e-les-ta-va-so]; duma (por de uma); como um bravo [co-mum-bra-vo]
3) sinalefa ou ditongação (fusão de uma vogal átona final com a seguinte, formando ditongo):
este amor [es-tia-mor],
sobre o mar[so-briu-mar],
aquela imagem [a-que-lei-ma-gem],
moço infeliz [mo-çuin-fe-liz]
4) sinérese (transformação de um hiato em ditongo, na mesma palavra):
crueldade [cruel-da-de}, luar, fiel, magoado [ma-gua-do}
5) ectlipse (supressão de um fonema nasal final, para possibilitar a crase ou ditongação):
co, cos, côa, côas (por com o, com os, com a, com as)
6) aférese (supressão de sílaba ou fonema inicial):
té (por até), inda (por ainda), 'stamos (por estamos)

H A I C A I S

Os haicais são minúsculos poemas de apenas três versos que somam dezessete sílabas. O primeiro e o terceiro com cinco sílabas e o segundo com sete, na leitura ocidentalizada; o haiku original em ideograma é grafado em uma única coluna vertical.
O haicai é uma das mais populares formas de poesia clássica japonesa, embebido pelo olhar sutil e dinâmico da filosofia zen-budista.
Para se compreender plenamente o pequeno mundo do haicai é preciso olhá-lo não apenas como objeto de linguagem, mas como um processo (indissociável de sua realização formal ) que exige um refinamento de sensibilidade, algo nada fácil de atingir.
Para se chegar a um bom haicai é preciso que o próprio poeta tenha se transformado num instrumento ultra-sensível, por meio de uma longa vivência, algo que estaria mais próximo da sabedoria do que da erudição
Nessa sofisticada chispa poética, o primeiro verso apresenta uma situação, um quadro visual, uma cena: o segundo mostra uma ação dentro dessa cena e o terceiro verso registra o resultado desse movimento.

"Pétala caída".
que torna de novo ao ramo:
- Uma borboleta!" ( Moritakê )

A economia de meios ( o dizer muito com poucas palavras ), o olhar atento à imagem instantânea, que cintila por um breve momento e logo se desfaz, o estado distraído e ao mesmo tempo alerta se exigem dos haijins (como são chamados os haicaistas).
Entre os grandes mestres orientais estão: Bashô ( 1644-1694 ), Issa, Buson, Shiki, Moritakê.
Mesmo que críticos e leitores menos familiarizados com o universo baiku torçam o nariz para a sua aparente simplicidade, o fascínio é comum a grandes artistas do Ocidente, embora, em nossa língua, seja grande a dificuldade em responder à tendência oriental para a condensação dos versos.
Merece relevo Guilherme de Almeida (1890-1969), que consagrou o haicai com um toque especial, dando-lhe rima, e que, rimado, ficou conhecido como "Haicai Guilhermino":

Chão humilde. Então
risco-o a sombra de um vôo.
"Sou céu!" disse o chão.

A temática do haicai oriental é a natureza; no Brasil, os temas são generalizados.
O haicai não é apenas objeto de linguagem, mas uma prática que exige sensibilidade refinada, capaz de extrair poesia dos eventos mais simples do cotidiano, como o canto de morte de uma cigarra:

"A cigarra... Ouvi.
Nada revela em seu canto
que ela vai morrer." (Bashô )

Parece tolo aos olhos dos ocidentais, mas sem essa sutileza de visão, é impossível compreender o verdadeiro fascínio do haicai.

Candida Papini
- ASES -

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
PEREIRA, Abel B. - Aprenda a fazer versos
Florianópolis/SC: A Figueira, 1992.
ASSUNÇÃO, Ademir – O Estado de São Paulo – Especial -
Domingo-Literatura – São Paulo- 1997.

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