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Refrão

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Do castelhano refrán, o refrão é a repetição do mesmo verso ou conjunto de versos no final de cada estrofe.

Processo formal muito remoto, o refrão é já visível nas litanias suméricas e egípcias, na Bíblia, na poesia grega e latina e nos hinos litúrgicos da igreja primitiva. Este processo literário, documentado desde o século XIII e mencionado na poética fragmentária, é encontrado na poesia provençal e nas cantigas paralelísticas galego-portuguesas, nas quais, a par do paralelismo e do elixa-prem, prolonga e alarga a ideia fundamental da cantiga, desde já reduzida, repetindo-a. Tornar-se-à depois parte integrante da estrutura formal da balada, da canção e do rondó.

Este é o momento base do paralelismo trovadoresco medieval, pertença da cantiga tradicional e popular e, por isso, mais frequente entre as cantigas de amigo do que entre as de amor e as satíricas, distingue a cobla galego-portuguesa da cobla provençal, que não inclui o refrão Na grande maioria das suas cantigas, e traduz, na opinião de muitos, a monotonia do nosso sentimentalismo, além de uma certa uniformidade e repetição na sua estrutura, visto que todos os versos da estrofe devem terminar no refrão e como este é o mesmo para cada estrofe na maioria dos casos uma reprodução exacta, é inevitável a repetição da ideia, por vezes com ligeiras variações na forma.

É-lhe atribuída bastante importância como elemento estruturante e é, muitas vezes, considerado um verdadeiro mote e a alma da cantiga, visto que encerra toda a sua ideia central. O interesse por este elemento formal está também testemunhado no Cancioneiro da Biblioteca Nacional, no qual a palavra “tornel”, em letra do século XVI identifica a grande maioria das cantigas de refrão e assinala a preocupação do seu compilador, Angelo Colocci, em reconhecer as cantigas com esta estrutura formal.

A tipologia dos refrães da lírica galego-portuguesa é variada e não se esgota no refrão de forma fixa, com o número de versos inferior ao do resto da estrofe e com o número de sílabas métricas igual ao dos restantes versos da cobla. Existem outros tipos de refrão, como o refrão intercalar, cujos versos surgem total ou parcialmente dentro da estrofe, e o refrão inicial que aparece no inicio da cantiga e é repetido no fim de cada estrofe, embora estes dois tipos de refrão não sejam muito frequentes na lírica galego-portuguesa.

A cantiga de seguir, género estabelecido na Arte de Trovar, apresenta como jogo formal o refrão de citação, consiste na adopção de um refrão de uma cantiga de um autor diferente, construindo-se um texto com outro significado. A citação de refrães diferentes em cada estrofe, independentes de qualquer cantiga e utilizados várias vezes em canções de géneros diferentes, é também um artifício da lírica francesa medieval, produzindo uma ideia de repetição semelhante aquela provocada pela repetição de refrães iguais dentro de estrofe.

Existem ainda refrães com número de versos maior que o número de versos de cada estrofe, de metro mais longo ou mais curto, refrães cuja rima não é independente da da estrofe, refrães de versos repetidos e refrães provérbio, entre outros.

O refrão, elemento integrante da cantiga, documenta igualmente a união da poesia com a musica, tradição esta já muito anterior à poesia lírica galego-portuguesa. Assim, em termos musicais, o refrão poderá ser definido como uma forma vocal ou instrumental reproduzida após cada copla de uma composição musical estrófica.

Artifício musical já utilizado em civilizações muito anteriores, o refrão aparece nas mais remotas formas musicais, quer em países europeus, quer em civilizações orientais de todo o mundo surgindo de igual modo na musica popular e profana ou na religiosa e erudita. Em certos casos, o refrão é constituído apenas com base na repetição de sons ou constituído por uma única palavra.

O refrão é actualmente muito comum na música “ligeira”, na qual segue ainda os preceitos primitivos, mas é bastante raro na música erudita e culta de vanguarda.

Bib.: Jose Fradejas Lebrero: “Evolución de un Refran”, Epos, nº 4 (1988); G.C. Manuel: “La Cultura del Refran”, Cadernos de Poetica, nº 4/11 (1987); Mário Garcia Page: “Propriedades Linguísticas del Refran”, Epos, nº6 (1990); Ma Nieves Vila Rubio: “El Refran: Un Artefacto Cultural”, Revista de Dialectologia y Tradiciones Populares, nº90 (1990).

Ana Ladeira

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