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O baile de máscaras da literatura

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

* Máscara

Todo o objecto que se coloca em frente à face, escondendo-a, em vários contextos, como, por exemplo, no Carnaval e em certas obras teatrais. Para muitos povos, as máscaras são consideradas objectos mágicos, dando aos seus utilizadores poderes especiais. As máscaras são ainda usadas em todo o tipo de rituais iniciáticos e outros, possuindo um simbolismo muito complexo, diferente de sociedade para sociedade. As máscaras fúnebres, usadas em muitas civilizações em pessoas normalmente de certa importância, pretendem conservar a imagem do defunto, representando uma certa ideia de permanência. À máscara associa-se normalmente esta ideia de permanência, mas também de esconderijo da pessoa e de identificação com aquilo que pretende representar, sendo esta última ideia a que subjaz à máscara teatral.

No teatro grego, a máscara servia para dar aos actores a sua personagem, a sua persona (= máscara). As máscaras eram tipificadas, correspondendo a um tipo de personagem pré-determinado, tendo também expressões faciais imutáveis que indicavam o destino último da personagem. Escondendo o rosto, os actores representavam usando apenas o tom de voz e o gesto. Ao longo do desenvolvimento do teatro, as máscaras foram sendo abandonadas, embora haja casos de reaparição, como na Commedia dell’Arte italiana. As máscaras cómica e trágica do teatro grego ainda hoje representam, em conjunto, o teatro: afinal, os actores, ao assumirem uma personagem, estão ainda a colocar uma máscara sobre si mesmos. De certa forma, a maquilhagem e o guarda-roupa mantém a ideia de máscara, ou seja, de substituição da pessoa do actor por uma persona durante o tempo que dura a representação. Ainda hoje, a máscara strictu sensu é usada em teatros de civilizações distintas da ocidental.

Na literatura em geral, a máscara, para além de tema de variados contos, romances e peças, é usada como símbolo da assumpção duma identidade diferente da original ou como símbolo do esconder dessa mesma identidade (lembremo-nos apenas das máscaras dos super-heróis da banda desenhada, que não só assumem uma identidade diferente usando máscaras, como escondem a anterior, mantendo-as separadas). Aliás, as palavras pessoa e personagem têm como base a palavra persona, máscara em grego. O termo persona designa hoje, tecnicamente, a personagem criada pelo autor para a criação poética e para as narrativas na primeira pessoa, lembrando que o autor no texto é sempre uma máscara, uma criação, mesmo quando o autor pretende identificar o narrador consigo próprio. Qualquer personagem numa obra é sempre descendente da máscara grega, é sempre uma construção duma identidade outra.

COMMEDIA DELL’ARTE; PERSONA; TEATRO

Bib.: Patrice Bollon: Morale du masque (1990)

Marco Neves

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