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Manifesto

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Texto programático de uma escola ou de um movimento literários ou de um artista individual, que serve proposta para a fundamentação de uma nova estética, para um protesto contra uma ideologia vigente, ou para marcar uma posição política dentro de uma determinada conjectura cultural. Apesar de em 1789, a Assembleia Nacional de França ter anexado à sua constituição de 1791 uma célebre Declaration des droits de l'homme et du citoyen, que pode concorrer com o conceito de manifesto, a ideia de texto de propaganda adquiriu o seu sentido actual sobretudo a partir do documento Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848, por Marx e Engels, no qual se afirmam os princípios básicos do movimento comunista. O tipo de discurso inflamado, repleto de desafios da ordem prevalecente, o apelo ao combate ideológico, o convite directo aos cidadãos para participarem nesse combate e a linguagem desabrida são já características do novo género literário. O excerto do final desse manifesto testemunha estas características: “Finalmente, os comunistas trabalham para a união e o acordo entre os partidos democráticos de todos os países. Os comunistas consideram indigno dissimular as sua ideias e propósitos. Proclamam abertamente que os seus objectivos só podem ser alcançados derrubando pela violência toda a ordem social existente. Que as classes dominantes tremam ante a ideia de uma Revolução Comunista! Os proletários não têm nada a perder com ela, além das suas cadeias. Têm, em troca, um mundo a ganhar. PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES, UNI-VOS!”.

Na literatura, o conceito de manifesto é mais abrangente e não está necessariamente ligado ao apelo à luta política. Qualquer arte poética é, a rigor, um manifesto de intenções para fundar uma nova estética e, assim sendo, conhecer-se-ão manifestos desde a Antiguidade clássica. Mas é sobretudo a partir do romantismo que melhor se define o género. O prefácio programático à segunda edição das Lyrical Ballads (1800), de William Wordsworth e Samuel Taylor Coleridge, é o melhor exemplo de um programa estético que procura introduzir uma nova sensibilidade para o fenómeno da criação literária. No início do século XX, registamos manifestos tão importantes como o de Marinetti, publicado na revista Le Figaro, em Paris, em 20 de Fevereiro de 1909, para fundar o futurismo e defender um novo ideal de vida marcada pelo mecanicismo da civilização contemporânea, e os de André Breton, de 1924 e 1930, para inaugurar o surrealismo, uma nova estética que se propunha conciliar o real e o sonho e combater as antigas crenças no humanismo e nas suas representações materialistas. Em Portugal, ficou célebre poema satírico de Almada Negreiros, Manifesto Anti-Dantas (1916), como forma de protesto contra as gerações anteriores de poetas sem fulgor e sem ideias novas: "Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi! É um coio d'Indigentes, d'indignos e de vendidos e só pode parir abaixo do zero!".



Carlos Ceia

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