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Sociolinguística

sábado, 12 de setembro de 2009

O GÊNERO NA SOCIOLINGUÍSTICA

Este trabalho tem como objetivo explicar a presença do gênero na sociolingüística, de forma clara e sucinta.

INTRODUÇÃO

Gênero é tido como um aspecto da identidade, que é construído social e culturalmente através de interações e práticas sociais. O fenômeno da variação, especialmente na abordagem da comunidade de prática, é visto como estando intrinsecamente relacionado ao processo de constituição da identidade dos sujeitos (incluindo o gênero)

Eckert e McConnell-Ginet (2003) defendem que ambas as categorias – sexo e gênero – não podem ser consideradas sinônimos, visto que o segundo é a elaboração social do primeiro. Para as autoras, por exemplo, a dicotomia menina-menino é a primeira a partir da qual a nossa identidade é formada. Meninas e meninos aprendem a ser femininas ou masculinos através das práticas sociais que existem nas diversas comunidades às quais eles pertencem. Assim, tem-se que: (i) meninas e meninos são tratados diferentemente por seus pais em relação ao padrão lingüístico que esses utilizam, à maneira pela qual eles brincam com seus filhos ou aos brinquedos que eles escolhem para suas filhas e filhos; (ii) as meninas e os meninos se envolvem com os mesmos grupos sexuais durante grande parte da infância, o que significa que meninas e meninos são socializados em diferentes culturas de gênero – isto, por sua vez, influencia o comportamento verbal que elas/eles desenvolvem.

Sobre os conceitos de gênero utilizados nos estudos sociolingüísticos, Wodak e Benke (1997) afirmam que as pesquisas correlacionando linguagem e gênero tiveram início com os trabalhos de Labov, nos anos 60. Nessa tradição, o gênero é visto como o sexo biológico, sendo que não são feitas considerações acerca da construção social do gênero. O gênero é controlado da mesma forma que a escolaridade, a idade ou a classe social – importam, apenas, na medida em que são passíveis de serem estatisticamente medidos

Os estudos de Labov (2001) em uma comunidade de fala na Filadélfia demonstraram o que o lingüista chamou de paradoxo do gênero (Gender Paradox), que inclui duas afirmações:

(i)quando se trata de mudanças vindas de cima[i][i] (changes from above), as mulheres utilizam mais as formas de prestígio do que os homens.

(ii)quando se trata de mudanças vindas de baixo (changes from below), as mulheres são as líderes da mudança lingüística, o que significa que quando as mudanças iniciam, as mulheres são mais rápidas do que os homens em utilizarem o novo símbolo social. Assim, ao iniciarem a mudança lingüística, elas produzem uma diferenciação de gênero (entre elas e os homens).

No primeiro caso, os dados levantados por Labov demonstraram que as mulheres utilizam variáveis menos estigmatizadas do que os homens. Em uma correlação do gênero com a classe social, o sociolingüista (2001) concluiu que as mulheres da classe média baixa fazem mais esforço para usar as formas de prestígio (e evitar as estigmatizadas) do que as mulheres de classe baixa ou alta.

Para explicar esse fenômeno, Labov segue uma perspectiva tradicional, pautando-se nos trabalhos de Schilling-Estes, 1998 (In Labov, 2001): devido às mulheres possuírem menor poder econômico, elas asseguram-se através do capital simbólico (linguagem). Assim, Labov sugere que o comportamento cuidadoso das mulheres em relação ao uso das variáveis de prestígio estaria refletindo a fraqueza socioeconômica delas que, por fim, geraria insegurança psicológica e sociológica. Contudo, Labov parece acreditar que as diferenças lingüísticas estão muito mais próximas da mobilidade social do que da insegurança social. Assim, o lingüista oferece uma possível interpretação para a conformidade das mulheres ao uso das formas de prestígio: reflete a responsabilidade que elas assumem pela futura mobilidade dos filhos, preparando o capital simbólico deles (p. 278). O papel das mulheres é visto, nessa explicação, em relação à educação dos filhos.

No segundo caso, Labov parece se distanciar de uma perspectiva tradicional ao focar os indivíduos (as mulheres) em suas redes sociais, de forma a identificar os líderes da mudança. Suas conclusões apontam que as líderes possuem uma posição central em suas redes sociais (elas influenciam seus amigos e parentes) e elas também mantém relações fora de suas localidades (demonstra a rota da mudança). Nas pesquisas de Labov, as líderes possuem um aposição econômica e social central em suas redes sociais locais e suas ações como líderes podem ser explicadas a partir das histórias de seus contatos sociais em anos de formação, que inclui uma história de não conformidade (p. 410).

Dado que identidade (gênero é um aspecto da identidade) e linguagem implicam-se mutuamente, a sociolingüística não pode se limitar a um modelo essencialista que considera o gênero como uma categoria universal e previamente estabelecida, sem levar em conta que essa categoria é uma construção histórica, política e social, através da qual os indivíduos constituem suas identidades. Assim, argumenta-se em favor de que os trabalhos que tratam de variação/mudança devem contemplar as práticas sociais nas quais os indivíduos se engajam para constituir suas identidades (o gênero está implícito nessa constituição), pois é nessas comunidades de práticas que as variáveis assumem significado social e, a partir daí, se espalham (ou não) para o contexto social mais amplo.

REFERÊNCIA:

SEVERO, Cristine Gorski. - O papel do gênero/sexo nos estudos sociolingüísticos de variação/mudança . Artigo.UFSC

http://www.dacex.ct.utfpr.edu.br/8cristine.htm

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