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NOVO HISTORICISMO (NEW HISTORICISM)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

1. O Novo Historicismo nasceu na academia americana, entre fins de 70 e começos de 80. Disseram no californiano alguns detractores, querendo derrogar uma situação em que a pretensão revolucionária ou simplesmente subversiva confinaria com a maior das autocomplacências e mesmo com o cinismo, por isso que academicamente garantida pelas condições de existência "utópica" do campus. Eu diria que não pode não aceitar se no liberalismo dos outros. De facto, estará presente no movimento o espírito de um lugar como a Berkley ainda na ressaca da revolta estudantil. Assim o diz Stephen Greenblatt, o fundador do movimento.

Tendo se graduado na Yale dos anos 60, em tempos ainda do domínio quase absoluto do New Criticism nos estudos literários, Greenblatt trabalharia em seguida em Inglaterra com Raymond Williams, um dos mais importantes críticos marxistas do nosso tempo; e depois viriam o regresso e a migração para Berkley.

Em geral, faz se coincidir o acto de nascimento do New Historicism com um número especial da revista Genre, de que Greenblatt foi o editor. O movimento teria o seu instante de refundação sobretudo em Shakespearean Negotiations (1988) e "Towards a Poetics of Culture" do mesmo autor. (1989)

Presentemente, a situação do novo historicismo é algo confusa. Se por um lado assistimos a uma consolidação das práticas (detectável tanto na qualidade invulgar da revista Representations, órgão oficial do movimento, como na extensão dos procedimentos novi historicistas ao estudo de praticamente todas as épocas "literárias"), cresce por outro lado um dissenso histórico e metodológico, interna e externamente perceptível. Assim H. Aram Veeser (1989) tem o movimento por bem fundado, enquanto Suzanne Gearhart lhe põe em perspectiva a ausência de reflexão metodológica e teórica. (1997) Assim, o co fundador Montrose vem manifestando um certo desconforto quanto à (in)definição da matriz teórica e metodológica do movimento, enquanto que num Greenblatt, e não sem equívocos, se pode detectar a sombra paradoxal de um determinismo global (um organicismo de teor historicista), graças porventura às importações de certos aspectos da antropologia cultural e à pervasividade do "poder", como Foucault o concebe — juntamente com outras formas de "circulação", entre as quais os "textos".

Aqui a anedota, não porque também eu esteja a fazer novamente história, mas tão só a bem da amenidade do verbete. Um dos mais convincentes new historicists é Walter Benn Michaels. O do Contra a Teoria.



2. Dedicado ao Renascimento (campo de estudos privilegiado do novo historicismo, sobretudo nos inícios), aquele número de Genre — as palavras são de Greenblatt — teria como novidade a consideração dos textos literários dos séculos dezasseis e dezassete no conjunto das práticas discursivas da cultura inglesa de então.

Assumindo se que tais textos não tinham sentido em si, senão que o teriam nas ligações estabelecidas com as crenças, com as práticas, e no interior das instituições da cultura renascimental, o movimento então nascente avançava perspectivas de estudo, que, por menos orgânicas, punham em questão os pressupostos historicistas:

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crenças e práticas de uma mesma época podem ser contraditórias, não só em função das diferentes instituições que as promovem, mas no interior das mesmas instituições,
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e autores e discursos manifestam atitudes ambivalentes face à autoridade, mostrando se o sentido semântico pragmático dos textos indecidível no que diz respeito aos valores do conformismo e da heterodoxia. (cf. 1982)

Na confluência destas duas recusas (formalismo e historicismo), o new historicism vai nomeando de outro modo a matéria dos textos literários, a qual confronta, não propriamente com um método ou com uma teoria, mas com um conjunto de posições críticas mais ou menos directamente saído dos problemas que — à medida que iria recusando a validade fundacional de posições estruturalistas e lato sensu realistas — a Teoria, ou, mais simplesmente, o pós estruturalismo, nos foi circunscrevendo. Entenda se por Teoria o capital cultural profissional dominante nos Departamentos de Inglês (e não só): não se trata já de Teoria da Literatura, mas de Adorno, Benjamin, Blanchot, Bourdieu, Derrida, de Man, Eagleton, Foucault, Jameson, Lyotard, etc.

O efeito prático é sobremodo interessante porque não corresponde em absoluto a perspectivas interdisciplinares mas a um processo de circulação entre disciplinas — ou antes, entre aquelas ressalvas críticas operadas pela Teoria sobre um certo número de problemáticas fundacionais. Cumulativamente, os novi historicistas circulam na prática entre épocas diferentes e entre diferentes textos e contextos, ao mesmo tempo que (reflexão teórica típica) consideram a 'circulação' como uma das características fundamentais do objecto 'textualidade' (e diga se, já agora, também do 'poder').

Assim começam as mudanças de nomeação: os textos literários serão os chamados textos literários, e os textos dos historiadores as chamadas histórias. O todo resulta unificado sob a figura inespecífica da textualidade, ou retoricamente abrangido pelo quiasmo, figura que é decididamente da predilecção especial dos escritos novi historicistas: desde logo, o inaugural The Forms of Power and the Power of Forms (Greenblatt) ou, o mais abrangente, the historicity of texts and the textuality of history (Montrose). O que o tropo adianta é aquilo que, ao mesmo tempo, o new historicism evitaria como questionamento: os tipos de reciprocidade específica (e a sua pertinência) entre o que se passa no campo literário e o que ocorre no campo histórico. O que não ocorre ao especialista, acode ao leigo com alguma facilidade: o literário não pode não ser histórico, mas este pode muito bem não ser aquele. Para que aquele quiasmo exista, têm ambos de pesar o mesmo em seu prato da balança. Serão, portanto, "texto". Cite se Montrose, um dos new historicists da primeira hora:



A orientação pós estruturalista para a história que presentemente emerge nos estudos literários pode ser quiasmaticamente caracterizada, como uma preocupação recíproca com a historicidade dos textos e com a textualidade da história. Pela historicidade dos textos, pretendo sugerir a especificidade cultural, o enraizamento social de todos os modos de escrita — não somente dos textos estudados pelos críticos, mas também os textos nos quais os estudamos. Pela textualidade da história, pretendo em primeiro lugar sugerir que não temos acesso a um passado pleno e autêntico, a uma existência material vivida, não mediada pelos vestígios textuais da sociedade em questão (…); e em segundo lugar que esses vestígios se acham também eles sujeitos a mediações textuais subsequentes quando são construídos como "documentos" sobre os quais os historiadores fundam os seus próprios textos, chamados "histórias". (Montrose, 1989: 20)



Esta amostra, hermeneuticamente correcta, é antes de mais significativa do escamoteamento da questão da reciprocidade entre os dois campos de estudo:

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ela existe apenas como preocupação do novi historicista, que deve conduzir os seus inquéritos naquelas duas frentes e
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desaparece de facto na figura comum dessa textualidade que não permite distingui los.

O confinamento da reciprocidade à "mente" do crítico, deixa porventura perceber que entre o contexto histórico de um lado e o texto literário do outro há "uma conexão de puro nada". (Liu, 1989: 743) O quiasmo seria assim a figura de uma analogia posta a caminhar em marchas forçadas das semelhanças percebidas entre texto e contexto até a um estado final de "simpatia": "uma acção quase mágica de assemelhamento" entre os dois (id.: 744) — de resto, e a crer em Foucault, muito renascimental.

O quiasmo, como equilíbrio formal, corresponde à noção greenblattiana de "economia mimética", porque mima retoricamente a circulação sobre a qual escreve; mas opera entretanto sobre um desequilíbrio inicial, porque (mesmo em contexto proto moderno) poria em causa a autonomia específica do literário e a existência de uma realidade histórica pré existente. (Thomas, 1991: 184)

Em qualquer caso, esta retórica corresponde bem a uma prática crítica que começa por aceitar se sem método e sem programa teórico, unificada apenas por um conjunto de preocupações:

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reconhecimento da ligação necessária entre os textos e os contextos culturais da sua produção, em paralelo com a recusa da autonomia estética dos primeiros e das relações de expressividade especular entre eles e os segundos, já não organicamente abençoados por coisas como o Zeitgeist, a visão do mundo, a ideologia de época ou de classe
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recusa tanto do determinismo como das posições humanistas que atribuem ao autor uma subjectividade autónoma e funcional
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consideração do potencial político dos textos literários
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incorporação de Teoria, e antes de mais de tudo quanto nela favorece a noção de que toda a experiência é de feição discursiva, desde sempre situada em sistemas de significação pré existentes a nenhum dos quais deve reconhecer se um carácter de necessidade, por isso que cada um situa e modela, e permite modelar e situar, o real de uma forma diferente de todos os outros
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e, mais especificamente ainda, incorporação progressiva de posições e objectos foucauldianos (as disciplinas, o poder saber, a identidade, o corpo, etc.), sem esquecer a técnica da "descrição densa" muito utilizada por Greenblatt, que foi pedida de empréstimo à antropologia de Geertz. (Montrose, 1989, 1993 e Greenblatt, 1980)

Assim, alguns aderentes do movimento (para continentais, com certa tocante candura) não só nele encontraram uma legitimação para o estudo e compreensão de textos literários canónicos através do uso de textos não literários (e, nestes, os de natureza política, habitualmente mais sujeitos a proscrição), como também nele acabam por descobrir as virtudes de uma misarquia textual generalizada: a nenhum texto será concedida precedência sobre outros textos, e os eventos históricos assumem um cariz textual que permitiria a sua "leitura". (cf. Kinney, 1993) Este tom algo encomiástico — o novo historicismo é libertador — não representará o pagamento de uma dívida de gratidão? E o que se agradece não será, pelo alargamento do cânone e do campo de estudos fora do cânone, uma nova land of opportunities de trabalho e de emprego?



3. Como se disse, o New Historicism teve a sua refundação em Shakespearean Negotiations (1988) e "Towards a Poetics of Culture" (1989). É justamente quando os objectos e os procedimentos foucauldianos são contrabalançados pela presença da antropologia cultural.

Com tudo isto mantém se o problema que, em 1992, o próprio Montrose reconhece como tal: o da ausência de um princípio de organização que determine as relações supostas na hipótese sobre que o new historicism, em tempos já da sua transformação numa poética da cultura, assentaria — a saber, que todos os aspectos de uma sociedade se encontram ligados entre si. Montrose, já não considerando como bastante a definição do movimento pela comunalidade de preocupações, e aceitando que nele se denota a incapacidade frequente de teorizar com rigor tanto o seu método como o seu modelo de cultura, recusa de algum modo a sua transformação em poética da cultura. Assim, é precisamente quando o movimento se teoriza que nele se reconhece a necessidade e a falência da teorização; e, assim, o novo historicismo é também agora o chamado novo historicismo (a designação surge entre aspas):



Procedendo na base de noções tácitas e talvez inconsistentes no que à dinâmica cultural diz respeito, os estudos "novo historicistas" parecem implicar por vezes que os objectos em análise se acham simplesmente ligados por um princípio de contingência cultural ou que o são a bel prazer do crítico ("conexão arbitrária"); ou, pelo contrário, que esses objectos mantém entre si uma relação necessária baseada num princípio de determinismo cultural. (Montrose, 1993: 36)



Mas, em Grenblatt, a comparação de textos a arbítrio deixaria de o ser na medida em que, sendo a cultura o medium de uma semiótica, os textos passam a ser causalmente expressivos de um código cultural gerador e restritivo: são formas ligadas organicamente entre si, e manifestam se numa estrutura de superfície que seria um verdadeiro sistema tropológico (Greenblatt, 1988 e Montrose, 1993) — responsável, de resto, pela própria possibilidade de uma descrição densa, a qual, ao dar conta de uma dada prática nos seus mínimos detalhes, manifestaria necessariamente o ethos da cultura a que pertence.

O que fica de fora é um tanto a história, mas seria, sobretudo, a noção de uma política da cultura, que assim perde obrigatoriamente precedência para a de uma poética da cultura: nestes termos, esta não pode não subsumir aquela na sua esfera perfeita onde toda a gente é unânime. (cf. Montrose, id.: 36)

Na verdade, o que Montrose nos mostra neste new historicism de segunda fase é uma convergência assinalável com os princípios do historicismo — convergência, aliás, que, pelo recurso à antropologia da cultura, tão sua congenial, seria razoavelmente previsível. Uma poética da cultura deveria necessariamente obedecer aos seguintes princípios antropológico historicistas:

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a cultura são culturas
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a cultura é colectiva, expressiva, intransplantável e configura se em padrões



e acarretaria no plano epistemológico, não menos necessariamente, as seguintes consequências:

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o abandono de posições valorativas e universalistas
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a afirmação de um pluralismo neutral e a tácita circunscrição da cultura pelo modelo "tribal": a cultura é comportamento uniforme, a uniformidade cultural é um padrão holístico, consistente e, no contraste com outras formações "tribais", incomensurável. (cf. Merquior, 1979: 43 e ss)



4. Do contacto com Williams decorreu decerto para Greenblatt a primeira percepção das fissuras ou dos estigmas no universo da "ciência normal" dominada pelo paradigma novi crítico. De facto, a própria designação new historicism não serve apenas à arregimentação de investigadores em oposição a um old historicism; polemiza também com aquilo que a designação new criticism significa. A primeira, construída sobre uma analogia com a última, e ao substituir criticismo por historicismo, reivindica a sua diferença característica no campo dos estudos literários. Uma definição de texto, como a de Arthur F. Kinney, torna se então muito representativa: "a) nenhum documento (nenhum texto) é abstracto, separado do tempo e do lugar onde foi produzido, b) qualquer autor tem uma intenção e nenhum texto é inocente, c) qualquer documento tem múltiplos leitores potenciais (seja ele lido, visto ou escutado), d) nenhum documento literário, no sentido estrito do termo, é uni dimensional." (Kinney, 1993: 37) O New Historicism corresponderia assim a um conjunto de posições no interior dos estudos literários unificadas (na medida em que é possível unificá las) por um certo tipo de recurso à História como princípio de explicação e de problematização dos textos literários.

Ora, tudo isto é algo que por inteiro caberia no domínio dessas falácias referenciais que o paradigma novi crítico repudiou como condição necessária para a sua emergência e definição. Grosso modo, para o new criticism são ilegítimas, nos domínios da descrição e da explicação, todas as utilizações de material extrínseco aos textos literários entendidos como ícones verbais, i. e., como objectos autotélicos, autobastantes, confinados a subtis operações de significação interna ou intrínseca, marcadas pela polissemia e pela ambiguidade. Greenblatt (e creio que essa posição é de há muito pacífica) justamente não reconhece que a distinção entre a produção artística e quaisquer outras formas de produção social (os contextos) seja intrínseca aos textos; antes que é sem cessar feita e desfeita por autores e leitores. (cf. 1982)

Pelo través desta indistinção, a natureza e o comportamento dos textos são batizados por um conjunto de metáforas de matriz económica: negociação, circulação, etc. E o new historicism (mas não só) acabará mesmo por pôr em causa senão a distinção entre texto e contexto, pelo menos o seu relacionamento tradicional: o texto artístico doravante já não é o que, por natureza (estética, digamos), se emancipa absolutamente do contexto.

Em conformidade, e previsivelmente, Montrose, num original de 1992, contestará a natureza extra discursiva do segundo, que seria antes de considerar como um conjunto de relações intertextuais e discursivas. (cf. Montrose, 1993) Deste modo, o contexto — ou melhor, a discursividade — surge como o lugar de emergência de textos e leitores; e tanto os primeiros como os segundos, a título de relações intertextuais e discursivas, não podem não tornar se "contexto" por seu turno.

Ora, não se vê muito bem — e insisto no tópico — como se pode escapar àquilo que, neste mesmo texto "maduro", Montrose critica, tanto em Greenblatt como numa poética da cultura: a orientação dos textos para a intertextualidade e da intertextualidade para a sincronia. (cf. id.: 36) Em suma, parece detectar se aqui uma debilidade de historicização. Nesta perspectiva, apenas o objecto seria histórico; e somente o seria porque de Quinhentos ou Seiscentos. Felizmente, as práticas de leitura, frequentemente inestimáveis, saem para fora do compasso teorético.

Neste ponto, interessa saber que algumas objecções ao movimento (e das mais impressivas) insistem na sua filiação novicrítica de facto: não tendo a ver com nenhuma espécie de historicismo, seria antes uma forma de close reading aplicada à comparação arbitrária de textos, (Hume, 1992) ou seria um formalismo da bricolage, em que polissemia e ambiguidade deixaram de ser os modos de funcionamento intrínseco do texto literário para passarem "a figurar as operações da história". (Liu, 1988)

Nestas condições, observa Alan Liu, o new historicism denotaria o embaraço histórico do intelectual pós moderno, demasiado consciente de si. Céptico quanto à possibilidade de conhecer o mundo e o outro (ou, mais, de aí intervir), encontrou no medium dos estudos históricos a oportunidade de se retratar na pose ansiosa de quem os busca; e, a bem da verosimilhança da atitude, far nos ia menção de sair do vaso perfeito do texto literário. De modo idêntico, a sua insistência no poder e na autoridade — problemática notoriamente foucaldiana — confessa nos, na mesma forma do embaraço, uma efectiva ausência de poder e de autoridade do intelectual academizado. (Liu, id.)

Estas críticas — dimensão pós moderna do intelectual crítico à parte — não parecem levar muito em linha de conta a reformulação geertziana do new historicism, empreendida por Greenblatt. (cf. Greenblatt, 1988) Em contrapartida, Hayden White pôde apreciar o conjunto e decretar lhe a falência teorética de facto, aferindo o por aquela mesma Teoria que o movimento privilegiou. O novo historicismo seria pré teórico (ou seja, situar se ia aquém do pós estruturalismo), por isso que denotaria a presença de três ilusões, a meu ver qualquer delas dependente de princípios historicistas, por isso mesmo que ou são ilusões ou, como a última (onde porventura cabem críticas como as de Liu), já próteses de organicidade:



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ilusão genética (ou seja, interpretação do texto à luz do seu contexto histórico)
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ilusão referencial (porque, ignorando da lição derridiana, se começa pela distinção texto contexto)
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ilusão textualista (segundo a qual a história é um texto, o social é uma função da cultura que não menos será um texto, e a relação entre esta e a literatura é de cariz intertextual). (White, 1989)



White assaca ao new historicism precisamente a ingenuidade epistemológica de que ele se quer emancipar. Mas faltou lhe observar que todas aquelas miragens são combatidas, ou, pelo menos, denegadas. Porque o new historicism, tomado no seu conjunto e nas suas contradições, quer de facto emancipar se delas.



5. A descrição densa vai representando em Greenblatt o teorético mais positivo e o mais forte compromisso com ele. Parece me que à vista daquela ressalva wittgensteiniana ao fundacionalismo teórico que é justamente a descrição. De resto, a tendência nominalista é dominante no que toca aos operadores mais globais, metaforicamente genéricos mas pouco específicos: energia social, negociação e circulação. As motivações desta configuração — e é isto que torna Greenblatt o autor mais exemplar de todos os new historicists — suponho eu que residam numa identificação temática de base, assentida embora repudiada (ou porque repudiada), entre determinar e conhecer. Ora, determinar, determinismo e afins (como teoria quando por eles definida), são termos proscritos na transformação pós estrutural do campo dos estudos literários. Assim, o new historicism pode descrever se como um conjunto de práticas de leitura permanentemente e em acto acompanhadas pela revisão verbal dos seus resultados (e devem considerar se estes instantes metatextuais como a mais autêntica manifestação da sua teoria e da sua metodologia). Segundo os seus bons princípios, o novi historicista tem de des conhecer; e cada triunfo em conhecer é uma derrota dos princípios. Em retrospecto, estamos condenados a este triunfo de Pirro: produzimos os objectos de estudo como determinados e conhecidos, e apenas podemos ressalvar que o não são. Quem nos crê? Muita gente.



NEW CRITICISM



Bib.:



Gearhart, Suzanne

(1997) "The Taming of Michel Foucault: The New Historicism, Psychoanalysis, and the Subversion of Power", New Literary History, 28:3.



Greenblatt, Stephen

(1980) Renaissance Self Fashioning, Chicago.

(1988) Shakespearean Negotiations, Berkley.

(1990) Learning to Curse. Essays in Early Modern Culture, New York London.

(1991) Marvelous Possessions. The Wonder of the New World, Oxford.



Hume, Robert

(1992) "Texts Within Contexts: Notes Toward a Historical Method", Philosophical Quarterly, 71.



Kinney, Arthur F.

(1993) "Ce que savait Shakespeare", L'Âne, le magazine freudien, 56.



Liu, Alan

(1989) "The Power of Formalism: The New Historicism", ELH, 56:4.



MERQUIOR, José Guilherme

(1979) The Veil and the Mask. Essays on culture and ideology, London, Boston & Henley.



Montrose, Louis A.

(1989) "Professing the Renaissance. The Poetics and Politics of Culture", in Veeser, H. Aram (ed.) The New Historicism, New York London.

(1993) "Coordonées du N.H.", L'Âne, le magazine freudien, 56.



Ross, Marlon

(1990) "Contingent Predilections: The Newest Historicism and the Question of Method", Centennial Review, 34.



(1982) The Forms of Power and the Power of Forms, special issue, Genre, 15.



Simpson, David

(1988) "Literary Criticism and the Return to 'History', Critical Inquiry, 14.

Thomas, Brook

(1991) The New Historicism and Other Old Fashioned Topics, New Jersey.



White, Hayden

(1989) "New Historicism: A Comment", in Veeser, H. Adam (ed.) The New Historicism, New York London.





Américo António Lindeza Diogo

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