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Augusto dos Anjos

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no engenho Paud'Arco, Vila do Espírito Santo, Paraíba, em 20 de abril de 1884. De uma família de proprietários de engenhos, assistiu, nos primeiros anos do século XX, à decadência da antiga estrutura latifundiária, substituída pelas grandes usinas. Em 1903, matricula-se na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1907. Retorna à capital paraibana, onde leciona literatura brasileira; casa-se em 1910.

Nesse ano, em conseqüência de desentendimento com o governador, é afastado do cargo de professor do Liceu Paraibano. Muda-se para o Rio de Janeiro e passa a dedicar-se ao magistério, lecionando no Colégio Pedro II. Em 191 1 morre prematuramente seu primeiro filho. No ano seguinte, publica Eu, seu único volume de poesias.

Em 1914, transfere-se para Leopoldina, Minas Gerais, para assumir a direção de um grupo escolar. Morre, após dez dias de fortíssima gripe, em 12 de novembro de 1914.

Augusto dos Anjos é um poeta único em nossa literatura. Sua obra é a soma de todas as tendências (ou de todos os ismos, como se costuma dizer) da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Curiosamente, sua obra apresenta traços do Expressionismo alemão sem que, no entanto, ele tenha conhecido a teoria dessa tendência de vanguarda.

Augusto dos Anjos
Se por um lado Augusto dos Anjos pode ser considerado o poeta do "mau gosto", do escarro, dos vermes, por outro é também um cientificista. Numa mesma poesia, ao lado de um verso como:

"Ah! Um urubu pousou na minha sorte!"

encontramos:

"Também, das diatomáceas da lagoa A criptógama cápsula se esbroa
Ao contato de bronca destra forte:"

Caso raro: fazendo uma poesia formalmente trabalhada, em linguagem cientificista-naturalista e, ao mesmo tempo, marcada por . uma "vulgaridade" incrível, Augusto dos Anjos conseguiu conquistar uma popularidade acima das expectativas. E o que mais aproximou .. o poeta da massa de leitores foi exatamente seu pessimismo, sua angústia em face de problemas e distúrbios pessoais, bem como das incertezas do novo século que despontava, trazendo consigo a ameaça de uma guerra mundial. Por isso a presença constante da , morte em sua obra; depois dela, a desintegração, os vermes apenas:

"E, em vez de achar a luz que os Céus inflama,
Somente achei moléculas de lama
E a mosca alegre da putrefação!"

("Idealização da humanidade futura")

"Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!"

("O Deus-Verme")

No famoso soneto "Psicologia de um vencido", revelador a partir do título, temos a recorrência dessa visão de mundo, das imagens e palavras antipoéticas, e um sugestivo auto-retrato, que se assemelha a uma caricatura, rompendo com os limites estéticos do belo e do feio, numa postura típica dos melhores expressionistas:

"Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!"

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