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Neologismo

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Termo utilizado para classificar uma palavra nova que surge numa língua devido à necessidade de designar novas realidades - novos conhecimentos técnicos, objectos gerados pelo progresso científico (neologismos técnicos e científicos) e até por questões estilísticas e literárias, tornando a língua mais expressiva e rica (neologismos literários).

O que sucede quando precisamos de atribuir um novo nome para designar uma ideia ou objecto novos é escolher uma destas opções: formar uma palavra nova a partir de elementos que já existam; adoptar um termo de uma outra língua; alterar o significado de uma palavra já antiga. Daí que os neologismos criados possam possuir diferentes processos de formação: por derivação (ficcionismo, metaficção), por composição (astronauta, homeopatia), por imitação de outras palavras já existentes na língua (eurocrata), por transferência de vocábulos pertencentes a outras línguas (clicar, inputar, scannear), ou palavras completamente novas que são criadas. Neste último grupo, incluem-se os neologismos literário-estilísticos que são criados para se conseguir um efeito único, especial, ou tornar uma frase mais maleável, concentrando uma expressão numa palavra, de modo a tornar o sentido mais explícito, por exemplo: «trotamundos» (forma como Walter, uma das personagens de O Vale da Paixão é referida várias vezes, pelo pai, por não permanecer muito tempo no mesmo local) e o substantivo seu derivado: «[…] estava no auge da trotamundice, e por isso não viria.» (Lídia Jorge, O Vale da Paixão, 3ª ed., Publicações D. Quixote, Lisboa, 2001 (1ª ed., 1998), 96); «gouvarinhar» (verbo criado por Eça de Queirós em Os Maias para se referir aos momentos de conversa, convívio, em casa da família Gouvarinho); «Quase não tatibitatibiava» expressão que faz referência a uma personagem de A Torre da Barbela que, em determinada situação, exagerava no uso do som [t] (Ruben A., A Torre da Barbela, Presença, Lisboa, s.d., 54); «…a culpa foi do tragalhadanças do Achado que não vê onde põe os pés» (José Saramago, A Caverna, Caminho, Lisboa, 2000, 128). A literatura é o campo privilegiado para o desenvolvimento de neologismos como se os autores tivessem plena liberdade com os sons, as sílabas, as regras sintácticas. Neste grupo de palavras novas que são criadas, incluem-se, também, os termos originários da gíria dos jovens que, após algum tempo de resistência, acabam por integrar o vocabulário português: «bué» (muito); «cota» (pai, mãe, qualquer outro adulto).

A uma outra categoria pertencem os neologismos publicitários que associam à função técnica do objecto uma conotação poética, tornando a mensagem útil e agradável. Muito frequentemente, usam o prefixo anti-, de modo a reforçar uma característica positiva do produto, como por exemplo: anti-aderente, anti-esturro.

Os neologismos podem pertencer ao léxico se se tratarem de vocábulos totalmente novos na forma e no conteúdo, ou à semântica, se se tratarem de palavras já existentes, mas que adquiriram um novo significado com a evolução dos tempos («focar» que etimologicamente significa fazer convergir raios emitidos por uma fonte de calor, quando reflectidos em espelho curvo ou refractados através de lente, foi com o passar dos tempos adquirindo o significado de abordar, referir, tratar, salientar, pôr em evidência). Outro processo de construção de neologismos é o que diz respeito aos acrónimos, que são vocábulos formados pelas iniciais de um conjunto de palavras que designam uma entidade, organismo, por exemplo: SIC- Sociedade Independente de Comunicação; NATO- North Atlantic Treaty Organization.

Uma outra forma de neologismos é aquela que corresponde à adopção de palavras de origem estrangeira, por comodidade, e por se considerar que é a palavra exacta para designar aquela realidade, por exemplo: abat-jour, download, site. São os estrangeirismos - uns mantêm a grafia original, outros adquiriram imagem, forma portuguesa: jóquei, clube, futebol. A partir destes, podem construir-se outros neologismos, como por exemplo: hamburgueria (hamburguer), pizzaria (pizza), que funcionam ao mesmo nível de padaria (pão) e sapataria (sapato), etc.

Os neologismos constituem processos fundamentais de renovação do léxico, a par dos arcaísmos que marcaram a sua presença de forma oposta (desaparecimento de palavras da língua que deixam de ser usadas pelos seus falantes).

BIBL: Ieda Maria Alves: Neologismo: Criação Lexical (1990); Marcel Cressot, O Estilo e suas Técnicas, s.d; Henri – Pierre Jeudy, La Mort du Sens: l’idéologie des mots, (1973); M. Rodrigues Lapa, Estilística da Língua Portuguesa, (1975); Stephen Ullmann, Semântica: Uma Introdução à Ciência do Significado, (1964).

Lurdes Aguiar Trilho

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