Anúncio provido pelo BuscaPé

Meiose?

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

MEIOSIS (ou MEIOSE)

Do gr. meíosis (“diminuição”), o termo refere-se a um tipo de figura de retórica de significado próximo da litotes, por nomear uma coisa depreciativamente, isto é, pelo seu contrário de menor valor proporcional. Por exemplo, quando apreciamos um carro de luxo e nos referimos a ele como uma “carroça” ou um “carrito”. Nos manuais retóricos clássicos latinos, assume as designações de extenuatio, detractio ou diminutio. Em inglês, traduz-se geralmente por understatement, o que mostra tratar-se de uma figura de aplicação polivalente e facilmente confundida com a ironia (a meiosis ocorre quase sempre em situações de comunicação irónica), com a litotes (a meiosis só se diferencia da litotes porque esta obriga à negação do significado contrário àquele que se pretende atribuir a uma coisa; a meiosis é derrogatória por definição, ao passo que a litotes é ironicamente laudatória) e a tapinosis (tal como a meiosis, serve para diminuir as qualidades de uma coisa). O contrário da meiosis é a auxesis, uma espécie de ironia que sobrevaloriza uma coisa que, pela sua natureza, não tem valor reconhecido (no exemplo inicial, diríamos de um carro de baixo valor que é uma “bomba”). Neste caso, a auxesis ou amplificatio só se distingue da hipérbole porque ocorre em contextos em que se combina com a ironia, o que não é condição necessária à formulação de uma hipérbole. Todo o poema de W. H. Auden “Musée des Beaux Arts” (in Collected Poems, 1978) é um exercício de ironia sobre a forma como a arte se afasta por vezes da realidade. Auden utiliza a meiosis para construir um poema de contrastes entre a crueza da vida e a forma como por vezes essa vida é sublimada pela arte, esquecendo aquilo que tem de mais impediedoso:

About suffering they were never wrong,
The Old Masters; how well, they understood
Its human position; how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse
Scratches its innocent behind on a tree.

In Breughel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the ploughman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water; and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
had somewhere to get to and sailed calmly on.

O poema nasceu a partir de uma visita de Auden ao Museu de Belas Artes de Bruxelas, em 1938, onde o poeta observou um quadro de Peter Breughel, “A queda de Ícaro”, que lhe inspirou este grito contra a apatia dos homens perante o sofrimento humano.

AMPLIFICAÇÃO; LITOTES



Carlos Ceia

0 comentários: