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A renovação da retórica

sábado, 23 de maio de 2009

É

surpreendente a Retórica ter surgido pujante há mais de dois mil anos, numa época de parcos recursos de análise, que nem de longe se comparam aos que dispomos hoje. Mais surpreendente ainda é a hibernação milenar em que a Retórica ingressou após seu período áureo, mesmo sendo objeto de furiosa exegese e matéria de estudo das melhores cabeças por séculos.

Um fato é certo: a Retórica não está completa. Não se disse tudo que há para dizer e muito do que foi dito merece reparos. Considerando que matérias como a Lógica e a Lingüística, nascidas no mesmo berço que a Retórica, já atingiram o estatuto de ciência moderna, por que a Retórica não teve evolução relevante em tantos séculos? Por que só na segunda metade do século XX surgiram contribuições notáveis à Retórica?

Afinal, o que há de errado com a Retórica? Ela não é matéria digna de atenção? Algum preconceito esmagador paira sobre ela? A Retórica está intrinsecamente impedida de alcançar o estatuto de ciência?

Há quem diga que a evolução do conhecimento se dá por saltos qualitativos, por ruptura de paradigmas. Digo que isso é válido quando o conhecimento anterior tem alguma premissa refutável que abala suas fundações, o que me parece não ser o caso da Retórica. Mas há outros modos de progresso do conhecimento. Há o progresso por generalização, expurgo e também por desbravamento. É por essas vias que julgo possível um avanço do conhecimento da Retórica. Primeiramente generalizando-a, não limitando-a à oratória da persuasão e do debate ou a mero apêndice da estética literária, mas estendendo-a até os seus limites naturais, o que inclui abordar desde o bate-papo no bar da esquina até o discurso filosófico mais denso, passando pelo jornalístico, didático, literário, etc.

Em segundo lugar, expurgar tudo que na Retórica venha de postulação estética ou moral e de tendências para a normatividade. Moral e estética sempre contaminaram a Retórica. Mesmo as tentativas mais recentes de revitalizá-la padecem desse mal.

E, finalmente, desbravamento. Nem todos os limites da Retórica foram demarcados. Há os que ainda não foram abordados.

Feitas as correções de rota necessárias, com certeza a Retórica ganhará novo alento.

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